Bioarquitetura: Conceito, História e Perspectivas no Estado do Ceará
É versado um período crítico da história e um dos problemas mais importantes a ser enfrentado globalmente está ligado às mudanças climáticas. Neste cenário, é visto que a construção civil (especialmente engenheiros e arquitetos) está entre as áreas que mais alteram a paisagem e, portanto, mais impactam o ambiente. Ao mesmo tempo em que isso dá a estas áreas um peso negativo relacionado à pegada ecológica, também significa que são áreas que tem um grande potencial de minimizar os impactos causados através de uma abordagem sustentável.
A bioarquitetura é compreendida como uma arquitetura pensada para utilização de recursos disponíveis no local e com enfoque na sustentabilidade e funcionalidade das habitações, dando à função uma importância maior que a estética, pelo menos fundamentalmente.
O Estado do Ceará está localizado no Nordeste do Brasil e encontra-se historicamente figurado entre os estados mais pobres do país. Entretanto, ao final dos anos 80 e início dos anos 90, houve um crescimento econômico expressivo. Antes deste boom econômico, eram comuns em todo o estado, construções de casas de barro (casas de taipa ou pau-a-pique e adobe), no entanto, este tipo de construção era frequentemente associado à pobreza, fome e à proliferação do vetor da doença de chagas. Por estas razões foram consideradas pelo governo do Estado como habitações indignas e um grande projeto objetivava que nenhum habitante do Ceará viveria mais em casas feitas de barro. Com o aporte econômico e apoio governamental, as casas de tijolo convencional se multiplicaram e as construções de barro foram praticamente extintas, levando com elas os estigmas de um passado aterrador.
Porém, hoje, diante do preocupante cenário ambiental global e da necessidade de mudanças de paradigma em busca de sustentabilidade, as construções de barro parecem estar em um horizonte promissor para a construção civil no Ceará, pois a produção de material é de baixo custo, exige pouca mão de obra especializada, matéria prima é abundante, não passa pelo processo de queima, por isso não há necessidade de desmatamento, e além disso, apresenta propriedades térmicas e de compressibilidade superiores às do tijolo convencional, o que torna um material interessante para um estado que apresenta temperaturas acima de 30º C ao longo de todo ano.
Entretanto, ainda há impedimentos estruturais, sociais e econômicos para que as construções de barro voltem a se tornar realidade e a solução destes problemas passam pela realização estudos científicos e aplicação prática.
A construção com barro, no Ceará, ainda carrega as marcas do passado recente, o Estado não tem interesse em construir o discurso de que uma habitação de barro é digna, e muitas pessoas resistem à ideia pois ainda relacionam este tipo de construção à pobreza. Cabem aos profissionais de construção civil projetar espaços com apelo mercadológico, sofisticação e luxo, ampliando o conceito de bioarquitetura para além da função, considerando também mercado e estética.