Cresce a cidade, erguem-se os muros
O impacto da violência urbana no aumento dos condomínios fechados

“Nas grandes cidades de um país tão violento
Os muros e as grades nos protegem de quase tudo
Mas o quase tudo quase sempre é quase nada
E nada nos protege de uma vida sem sentido”

Humberto Gessinger

Fortaleza tem se caracterizado por um aumento real e/ou imaginário da violência urbana. Cada vez mais a cidade vem experimentando um processo de fragmentação social e territorial marcado e sendo pautada pelo o medo do crime violento. Por isso, a reprodução da sensação de medo urbano se torna um resultado do aumento da criminalidade violenta e, com isso, altera-se a vida cotidiana e a percepção das paisagens urbanas de maneira que, muitas vezes, locomover-se pela cidade de Fortaleza se torna tenso, tendo que pensar a todo momento nos possíveis espaços a serem evitados, como ruas, cruzamentos, bairros e territórios considerados “perigosos”.

Essa percepção de “perigo”, tornou-se uma das principais justificativas para que populações de classe média e alta busquem segurança em condomínios residenciais, ambientes fechados, dotados de mecanismos defensivos.

Assim, é subsequente o aumento da procura por morar em condomínios fechados, onde se concentra os maiores investimentos em infraestrutura urbana, culminante para o adensamento e para a verticalização da moradia. Cada vez mais esses condomínios são segregados de seu meio urbano, voltados para uma existência intramuros.

Os condomínios usam estratégias para criar separação, como barreiras físicas ou grandes afastamentos, que intimidam a aproximação de pedestres; uso de sistemas de segurança; espaços voltados para dentro e que excluem a vida de fora. Resultam em cidades fragmentadas e representam uma forma de organizar diferenças sociais, criando autosegregação.

Segregação entre condomínio fechado e comunidade

O muro separa os que estão dentro daqueles que estão fora, porém quem está fora?

Fisicamente, as classes mais altas podem afastar os pobres com sistemas de proteção. Essa proteção é ilusória, por muitas das vezes quem está fora são as classes mais altas, fora da comunidade que estão inseridos fisicamente. Não somente os sistemas de proteção, como até o próprio automóvel que as pessoas utilizam para entrar e sair dos condomínios, diminuindo assim ainda mais a interação entre essas classes sociais.

A conexão visual entre o espaço privado e público é bloqueada pelos muros que cercam os condomínios, como também acaba gerando áreas externas inóspitas e monótonas, ajudando no aumento da sensação de insegurança e diminuindo a intensidade de uso dos espaços públicos próximos. Isso ocorre porque as barreiras visuais que são os muros, impossibilitam encontros casuais de vizinhos, dificulta a participação dos moradores na paisagem urbana, restringe a vigilância que é feita por próprios moradores.

Um dos requisitos básicos para essa vigilância cidadã é uma considerável quantidade de estabelecimentos locais públicos, como lojas, confeitarias, padarias, bares. Esses comércios diferentes e variados fazem os indivíduos circularem e acabam atraindo outras pessoas.
Uma rua viva tem usuários e observadores.

O momento é de repensar as nossas cidades
não sob o enfoque da privacidade, da criação
de novas barreiras, mas sim da reorganização da
comunidade e de reabilitação dos espaços
públicos, tendo como uma das hipóteses a defensibilidade.

Humberto Yamaki.
Fachada ativa e ruas inóspitas

A ideia é que com o aumento de condomínios e a escassez dos espaços público e livres, cada vez mais o arquiteto e o mercado tem que se responsabilizar pelo gerenciamento e até a manutenção dos espaços livres. Os projetos privados devem compreender e conter a consciência do entorno do edifício, a responsabilidade urbana que a sua instalação necessita, e respeitar o seu contexto no bairro e na cidade.

Para baixar o Trabalho de Conclusão de Curso “CIDADE SEM MUROS:CONEXÃO ENTRE ESPAÇO PÚBLICO E EDIFÍCIO, POR MEIO DA COLETIVIZAÇÃO DE ESPAÇOS DE USO COMUM“, você precisa ou curtir a página do Batente no Facebook ou compartilhar pelo Twitter. No entanto, se você já curtiu a nossa página é preciso clicar duas vezes no botão de curtir para que o link de download apareça, certo?! 

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Como Citar essa Matéria
COSTA, Rafaela. Cresce a cidade, erguem-se os muros. Projeto Batente, Fortaleza - CE, 28 de agosto de 2019. Arquitetura e Urbanismo. Disponível em: <https://projetobatente.com.br/cresce-a-cidade-erguem-se-os-muros/>. Acesso em: [-dia, mês e ano.-]
Rafaela Costa
Arquiteta e Urbanista
Arquiteta e Urbanista pela UNIFOR, com atuação profissional em projetos de edificações e ambientações e recentemente na elaboração do plano de regularização fundiária. Na atuação acadêmica fez parte de grupos de pesquisas como arte urbana em favelas, e o inventário de residências históricas em Fortaleza como documento e memória. É apaixonada pela relação edifício e cidade e como eles podem e devem contribuir para uma cidade mais justa e democrática.

Rafaela Costa

Arquiteta e Urbanista pela UNIFOR, com atuação profissional em projetos de edificações e ambientações e recentemente na elaboração do plano de regularização fundiária. Na atuação acadêmica fez parte de grupos de pesquisas como arte urbana em favelas, e o inventário de residências históricas em Fortaleza como documento e memória. É apaixonada pela relação edifício e cidade e como eles podem e devem contribuir para uma cidade mais justa e democrática.

One thought on “Cresce a cidade, erguem-se os muros

  • 11/07/2021 em 9:48 pm
    Permalink

    Excelente!! Espero que muitos muros caiam pela cidade, mas isso precisa de LEIS, REGULAMENTACAO, BONS VEREADORES E PREFEITOS.

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