Escalas e Lugares Uma relação além das dimensões espaciais
Este artigo surgiu de uma inquietação após assistir o vídeo “Escalas e Lugares”, gravado pelo canal do YouTube chamado Arquicast. O tema traz inúmeras reflexões sobre a importância que as mudanças de escala têm sobre um determinado objeto, seja um meio fio ou uma cidade, permitindo novas observações e maiores possibilidades de intervenções.
Em teoria, “escala é uma estratégia de aproximação do real. […] é uma construção social com três acepções correntes: a de dimensão, a exemplo de economias internas ou externas de escala; a cartográfica, que se traduz na relação entre objeto e sua representação em cartas e mapas; e a conceitual, associada à ideia de que objetos e ações são conceitualizados em uma dada escala na qual processos e configurações se tornam específicos e têm a sua própria escala de representação cartográfica.” (CASTRO, 1995).
Dentro desse contexto, nota-se que a escala é fundamental em pesquisas de cunho cartográfico, geográfico, ambiental, ou qualquer outra que se realize sobre o espaço físico de atuação de um fenômeno, espacializando a sua representação. Vale ressaltar que essas metodologias vão alterando e ganhando novos fundamentos a partir da mudança dessas escalas.
No início do ciclo acadêmico, mais precisamente nos primeiros projetos arquitetônicos, a noção de escala e lugar é bem simples, englobada dentro de um conceito ou realidade daquela determinada área de intervenção. Essa noção tona-se gradativa com o tempo, deixando de ser apenas dimensional, tornando-se temporal. Mas afinal, o que seria escala temporal dentro de um determinado lugar? Para melhor compreender essa questão, Tuan (1983) afirma:
“adquirimos afeição a um lugar em função do tempo vivido nele; o lugar seria uma pausa na corrente temporal de um movimento, ou seja, o lugar seria a parada para o descanso, para a procriação e para a defesa; e por último, o lugar seria o tempo tornado visível, isto é, o lugar como lembrança de tempos passados, pertencente à memória.”
Diferente da escala dimensional, a escala temporal diz respeito à abrangência temporal, ou duração dos processos (ritmo e intensidade são noções associadas), porém não podemos esquecer da vivência, uma importante experiência subjetiva do tempo.
Portanto, o artigo constitui-se, sobretudo, conectar alguns conceitos, visando a contribuir para o aprofundamento desse tema de forte centralidade no Urbanismo e na Arquitetura, desde a fase acadêmica ao exercício profissional.
Retomando ao podcast “Escalas e Lugares”, também foi citado o livro do arquiteto Rem Koolhaas como referência para essa abordagem: Small, Medium, Large, Extra Large (pequeno, médio, grande e extra grande), enquanto small e medium abordam questões de projetos que variam do doméstico ao público, large se concentra no que Koolhas chama de arquitetura de grandeza e extra large apresenta projetos em escala urbana, juntamente com o importante ensaio “o que aconteceu com o urbanismo?” e outros estudos da cidade contemporânea.
REFERÊNCIAS
TUAN, Yi-fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. Tradução: Lívia de Oliveira. São Paulo: Difel, 1983.
O problema da escala. In: Geografia, conceitos e temas. Castro, I.E; Correa, R.L. e Gomes, P.C.C. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995, p. 114-40.
KOOLHAAS, Rem; MAU, Bruce. S,M,L,XL. Nova York: Monacelli, 1995. 1344 p.
Como Citar essa Matéria
DIEGO, Francisco. Escalas e Lugares . Projeto Batente, Fortaleza - CE, 18 novembro de 2019. Arquitetura e Urbanismo. Disponível em: <https://projetobatente.com.br/escalas-e-lugares/>. Acesso em: [-dia, mês e ano.-]
Olá Diego. Obrigado por nos citar no seu artigo. Parabéns pela proposta de conteúdo que desenvolvem aqui. Abraço. Rapha.