Velhos e Novos Edifícios Preservação e Desenvolvimento Urbano
É possível conciliar a preservação de nossa memória e o desenvolvimento urbano? É possível que uma cidade evolua e se torne competitiva e atual sem transformar radicalmente sua paisagem construída? Aqui em Fortaleza esse dilema parece perfeitamente resolvido: precisamos nos modernizar! É preciso destruir as antigas estruturas e construir uma cidade nova, contemporânea como fazem na Europa e nos Estados Unidos! Mas… será mesmo?
A paisagem urbana de Fortaleza, tem passado ao longo da história por um processo contínuo de mudança. A transformação, numa grande metrópole como a nossa, é um processo natural e desejável pois, se bem conduzido, confere dinamismo e vitalidade à cidade. O que causa perplexidade ao cidadão mais sensível e de olhar um pouco mais atento é que, nesse processo, o velho e antigo é sistematicamente substituído pelo novo ou, de forma mais precisa, pela “novidade” num processo vertiginoso que não oferece sequer tempo hábil para assimilar essa metamorfose imposta por aqueles que efetivamente constroem nossa paisagem.
A arquitetura de outros tempos é apagada de nosso ambiente construído e, em seu lugar, aparece uma nova arquitetura, muitas vezes de qualidade questionável, que nos leva a perguntar se o que se está oferecendo em troca representa efetivamente um ganho real à nossa paisagem urbana.
A cidade é um sistema complexo que se constrói por meio de um lento processo que vai conformando pouco a pouco o que alguns chamam de genius loci ou o espírito do lugar. Trata-se dos traços que fazem com que cada lugar possua um determinado caráter ou personalidade única, conformada através da estratificação de sua história, suas tradições, seus condicionantes ambientais, sua arquitetura.
Quando se apaga sistematicamente essa componente histórica e cultural presente na arquitetura de outros tempos, corremos o risco de nos transformar em algo estranho a nós mesmos. Num lugar difícil de reconhecer como nosso, tamanha a profusão de elementos exógenos que não dialogam com a cidade existente.
Não se trata de defender um congelamento absolutamente anacrônico de nossa paisagem urbana impedindo sua desejável evolução, mas, sim, de compreender que o processo de transformação da cidade deve levar em conta uma equilibrada relação entre mudanças e permanências de tal forma que se consiga transformar o lugar pela arquitetura em contextos históricos sempre novos, mas conservando elementos essenciais, materializados na moldura arquitetônica, que conformam nossa memória coletiva.