A criatividade e a cultura podem transformar as cidades? Inovar e conectar são as palavras de ação em uma rede complexa.
A cidade se constitui através do tempo e do espaço em uma rede complexa e dinâmica que envolve política, economia, meio ambiente, cultura entre outras conexões. Com dinâmicas cada vez mais complexas, a discussão sobre o futuro das cidades – em especial dos centros urbanos – se torna cada vez mais necessária.
Inovação e conexão são as palavras que compõem o vocabulário de quem fala sobre cidades que têm a criatividade como motor de seus planejamentos. Isso quer dizer que o investimento na cultura e, por consequência, na economia criativa se torna um ponto fundamental para o desenvolvimento sustentável e econômico, delineando as chamadas Cidades Criativas.
As Cidades Criativas
A pesquisadora Ana Carla Reis, especialista sobre o tema e professora na Fundação Getúlio Vargas, afirma que uma cidade criativa é “uma cidade que se reinventa”.
Nesse sentido uma Cidade Criativa é aquela que agrega valor aos setores tradicionais da economia, atrai o turismo e propicia um ambiente criativo, aberto às novas ideias e conexões. Como afirma Ana Carla Reis: “é a cidade em que soluções práticas para problemas ou antecipação de oportunidades, sejam elas inovação tecnológica, sociais ou culturais, estabelecem conexões entre o público e o privado, entre o local e o global entre a economia, cultura e demais setores”.
Um exemplo clássico de cidade que se reinventa é Medellín, na Colômbia, que passou da cidade mais violenta do mundo à mais inovadora, implementando políticas públicas que aliaram educação, tecnologia e cultura.
Desde 1993, a segunda maior cidade da Colômbia vem adotando uma série de iniciativas, como a construção de parques, museus, bibliotecas, além de projetos voltados para cuidar da auto-estima da população, de fomento à economia criativa, de um pacto de continuidade na filosofia de gestão da cidade, da criação de um modelo educacional referência em todo o mundo, e do investimento no turismo, uma das principais atividades econômicas da cidade atualmente.
Medellín foi a primeira cidade no mundo a adotar o teleférico como meio de transporte para a população mais pobre. Com suas diversas montanhas e morros, os teleféricos são a melhor forma de se locomover em determinados locais, com ônibus e metrô integrados. Além disso, conta também com escadas rolantes que fazem o transporte de milhares de moradores de comunidades que não têm acesso aos teleféricos.
A criatividade como estratégia é chancelada pela UNESCO
Em 2004, a UNESCO criou a Rede de Cidades Criativas com a finalidade de promover a cooperação entre centros urbanos que indicaram a criatividade como um fator estratégico para o desenvolvimento urbano sustentável.
O conceito de Cidade Criativa surgiu a partir dos termos “indústria criativa” e “economia criativa”, no início da década de 1990. Essas expressões entre si criaram uma significativa conexão entre cultura e economia, pautadas na criatividade.
Uma Cidade Criativa envolve um modo de captar características singulares da cidade, baseadas na cultura e criatividade, em consonância com ações políticas e econômicas, na intenção de promover o desenvolvimento urbano pautado em direitos, deveres e benefícios, através de uma chancela concedida pela UNESCO.
A Rede de Cidades Criativas funciona como uma plataforma de conexão entre as cidades que identificam a criatividade e a cultura como fator estratégico de desenvolvimento sustentável através de sete áreas criativas – artesanato e arte popular, audiovisual, design, gastronomia, literatura, artes e mídia, música.
No mundo, 246 cidades estão conectadas pelos seguintes valores: importância da identidade local, fortalecer a cooperação internacional, desenvolver e compartilhar experiências, fortalecer a participação cultural, criar ações que conectam setores públicos, privados, sociedade civil, e incorporar a cultura às políticas de desenvolvimento urbano sustentável.
No Brasil, as cidades que têm a chancela concedida pela UNESCO são Curitiba, Brasília e Fortaleza (Design); Belém, Florianópolis, Paraty e Belo Horizonte (Gastronomia); João Pessoa (Artesanato e artes folclóricas); Salvador (Música); e Santos (Cinema).
Ao adquirir o direito de usar o nome da Unesco em seus programas e práticas, as cidades criativas firmam compromisso em informar anualmente as políticas, iniciativas, projetos e ações implementadas, tanto local quanto internacionalmente, que visam a desenvolver a cultura e a criatividade. Nesse sentido, ficam comprometidas a fomentar o uso de tecnologias, criar espaços, festivais, feiras e eventos que mostrem as especificidades locais em consonância com estratégias econômicas, sociais e urbanísticas.
A cidade é uma rede complexa. É preciso ter cuidado.
É importante se atentar para algumas questões que a ideia de Cidades Criativas pode ser desenvolvida em cada lugar. Uma delas é não confundir a cidade como produto e entendê-la como um processo singular com suas características subjetivas e priorizar o cidadão como protagonista. Falar de Cidades Criativas pede para que costuremos os desafios, nos âmbitos macro e micro, que se apresentam de tempos distintos, entre os séculos passados e o XXI.
Vale salientar que 2021 é o ano internacional da Economia Criativa para o Desenvolvimento Sustentável. A proposta reconheceu a necessidade de promover o crescimento econômico sustentado e inclusivo, fomentar a inovação e fornecer oportunidades, benefícios e empoderamento para todos e o respeito por todos os direitos humanos. Nesse sentido, a UNESCO solicita que os países considerem a importância da cultura quando elaborarem e negociarem seus planos de recuperação.
Como Citar essa Matéria
FARIAS, Wilma. A criatividade e a cultura podem transformar as cidades? . Projeto Batente, Fortaleza - CE, 30 de abril de 2021. Urbanismo. Disponível em: <https://projetobatente.com.br/a-criatividade-e-a-cultura-podem-transformar-as-cidades>. Acesso em: [-dia, mês e ano.-]