A Transformação Urbana de Lujiazui Não foi apenas em Shanghai. Diversas outras transformações urbanas também ocorreram em toda a China nas últimas três décadas.
O que dizer de uma cidade que de fábricas, armazéns, aldeias e campos agrícolas se transformou nos maiores arranha-céus do mundo em apenas 30 anos?! Extremamente rápida, planejada e ultramoderna! Foi assim o desenvolvimento e a transformação urbana da atual zona financeira e comercial da cidade de Shanghai, que se chama Lujiazui e fica na margem leste do rio Huangpu. Esta transformação da paisagem urbana de Shanghai é considerada por alguns especialistas um modelo ideal de desenvolvimento urbano devido ao seu planejamento detalhado e sua velocidade de execução. Características estas que a China buscava nos anos 1990, quando o governo da República Popular da China anunciou seu plano de desenvolver a cidade como parte da reforma econômica para atrair investimento estrangeiro. E não foi apenas em Shanghai, diversas outras transformações urbanas também ocorreram em toda a China nas últimas três décadas.
O plano tinha como objetivo transformar Shanghai em um distrito comercial global, criando uma zona em que edifícios ultramodernos, abrigando em sua maioria bancos internacionais, hotéis e torres de escritórios, convivessem com espaços públicos de qualidade e apropriáveis, tudo isso totalmente integrado a uma infraestrutura urbana ‘futurista’ eficiente. E é exatamente isso o que se tem hoje, em 2020! Mais de 100 arranha-céus compõem o ‘skyline’ de Lujiazui, um grande ícone da megalópole e seu principal cartão postal. Entre eles alguns dos mais icônicos do mundo, que chegam a tocar o céu. A bela torre de Pérola, torre de TV com 467 metros de altura; a torre Jin Mao, com 420,5 metros de altura dividida em 88 pavimentos; o centro financeiro mundial de Shanghai, também conhecido como “abridor de garrafa” e atualmente o sétimo mais alto edifício do mundo e o segundo maior da China, o qual é superado apenas pela ‘Shanghai Tower’, segundo maior edifício do mundo esbanjando uma altura de 632 metros e uma forma espiral cujo topo só se pode ver em dias de céu limpo.
Apesar da beleza de uma composição de arranha-céus, sabe-se que tais megaconstruções quando concentradas em uma mesma área urbana, afetam negativamente a apropriação dos espaços públicos pelas pessoas, que tendem a caminhar mais rápido ao passar em frente a construções cujo porte está fora da escala humana, e estas áreas acabam se tornando apenas locais de passagem, e não ambientes vivos e ativos. Entretanto, em Lujiazui esse impacto negativo foi amenizado através da instalação de um extenso percurso elevado de pedestres margeando e interligando-se aos arranha-céus. Diferente da maior parte dessa tipologia de edifícios, que não é muito convidativa e se configura como um objeto alienado no meio do espaço urbano consolidado, os arranha-céus de Shanghai estão parcialmente interligados com o meio urbano através da conexão com o percurso elevado de pedestres por meio de pavimentos com função ativa na cidade, contendo espaços não públicos, mas abertos às pessoas, como terraços de lazer, cafés, livrarias e restaurantes, que funcionam como ambientes de interação social que impactam positivamente na qualidade do espaço urbano.
O percurso elevado de pedestres de Lujiazui é suspenso 6 metros do nível da rua e consiste em uma solução urbana que busca manter os pedestres protegidos do caótico trânsito chinês (tema para um novo artigo!), garantindo a segmentação do alto fluxo de veículos motorizados com o também alto fluxo de pedestres. O percurso completo tem uma extensão de aproximadamente 1 km e largura suficiente para 15 pessoas caminharem lado a lado. Além disso, há diversas conexões com as avenidas, através de escadas rolantes e elevadores a céu aberto, e também a interligação com o sistema de transporte público, onde se tem acesso direto a uma estação de metrô.
O ponto alto deste trajeto é a grande ‘rotatória de pedestres’, com 100 metros de diâmetro, localizada exatamente acima de uma super movimentada rotatória de veículos formada pelo cruzamento de 5 vias arteriais da região. Ou seja, um projeto que mantém os diferentes fluxos em harmonia, gerando nas pessoas o sentimento de que foram consideradas no processo de planejamento daquele espaço. Colocando assim, o ser humano novamente como unidade básica do espaço urbano, e não os carros. Dali, debaixo daqueles arranha-céus e de camarote para as vias, é possível contemplar, ao meu ver, um belo casamento entre arquitetura e meio urbano!
A experiência de percorrer este trajeto que margeia alguns dos mais altos edifícios do mundo e lembrar que tudo aquilo a 30 anos atrás não passava de um distrito rural com campos agrícolas e fábricas, traz a tona alguns traços culturais marcantes da população chinesa, assim como sua hierarquia social. O imediatismo, a disciplina, a obediência e o foco são características que me saltam aos olhos após conviver algum tempo em meio a essa cultura oriental, e acredito colaborarem para a conquista dessa grande transformação urbana em pouquíssimo tempo, tal qual ocorreu em Shanghai. Cidade esta que me faz sentir que por aqui, o futuro já chegou!
Como Citar essa Matéria
ESMERALDO, Lara. A Transformação Urbana de Lujiazui. Projeto Batente, Fortaleza - CE, 18 de setembro de 2020. Urbanismo. Disponível em: <https://projetobatente.com.br/a-transformacao-urbana-de-lujiazui>. Acesso em: [-dia, mês e ano.-]