Arquiteto tem que empreender? Você se forma e abrir o próprio escritório parece ser a única alternativa. O que a gente não sabe no começo, é que na faculdade não aprendemos a empreender.
Com a quantidade crescente de universidades e turmas se formando todo semestre em arquitetura, aliado à crise da construção civil, que vem perdurando durante os últimos anos, se tornou visível a dificuldade para se estabilizar em um emprego formal como arquiteto dentro de um escritório de arquitetura. O resultado disso é que tem se tornado cada vez mais natural a decisão de empreender no mercado quando se termina a faculdade. O que muitas vezes não é dito ou não está claro no período como recém formado, é que durante a graduação nós não aprendemos a ter uma empresa e a ser um empresário.
Hoje posso dizer que já acompanhei vários amigos e colegas de profissão desde o início da jornada e o caminho normalmente é sempre o mesmo. Nos formamos, continuamos trabalhando em um escritório, que comumente é o último escritório onde se estagiou, meses ou anos depois resolve abrir o próprio escritório, seja em carreira solo ou sociedade, passa os primeiros meses fazendo projetos que na maioria das vezes é para a família que vinha aguardando um arquiteto se formar, tudo parece um mar de maravilhas até que você faz todas as casas da família e chega a hora de prospectar novos clientes fora do círculo familiar. Essa primeira fase acontece normalmente nos dois primeiros anos de escritório e aí você se depara com a ideia que para abrir um escritório você vai precisar ser além do que só arquiteto. Quando eu me formei, tinha a concepção de que era fundamental que tivesse dentro da grade curricular da faculdade alguma disciplina que plantasse uma semente sobre como montar um escritório ou como gerir um operação de arquitetura.
Com o passar do tempo, percebi que definitivamente esse não era o papel da universidade. O curso de arquitetura, como qualquer outro, é um curso técnico, a faculdade ensina a gente a fazer projeto e não a administrar. Desta forma, por muito tempo, você se formava e podia cumprir o ofício da profissão em uma empresa consolidada e que te passasse a segurança para trabalhar por anos e anos, até se aposentar. Mas o que se pode ver hoje, é que está cada vez mais complexo seguir uma carreira como colaborador dentro de um escritório e isso é reflexo também da desvalorização da profissão que faz com que poucos escritórios se estabilizem de tal forma que se sustente bem por muitos anos. Falando assim, dá a entender que empreender parece algo intangível e que é um péssimo caminho a ser seguido quando se sai da faculdade, mas não é bem assim.
Como eu falei lá no início, muito provavelmente depois dos dois primeiros anos de escritório e arrisco dizer que até o quinto ano, é só aprendizado. A gente fez arquitetura, aprendeu a ser arquiteto, mas se a gente precisasse aprender a administrar, talvez fosse necessário mais cinco anos na academia, que é o tempo de uma faculdade de administração. Então se a gente não tem o embasamento teórico na universidade para tal, a prática obriga a gente a aprender.
No final das contas, a lição que eu aprendo ao optar por empreender, é que você precisa ceder aos encantos de exercer apenas o ofício da profissão. Você vai precisar abrir mão de ser só arquiteto para ser também empresário, e isso demanda tempo. Isso não vai te fazer menos arquiteto, mas com certeza vai tomar parte do tempo para aprender gestão. Além de tudo isso, é necessário criar uma cultura, a identidade e os valores da empresa, você vai precisar sistematizar os processos, cuidar das pessoas e acima de tudo, saber lidar com as adversidades.
Como Citar essa Matéria
MACEDO, Vinícius. Arquiteto tem que empreender? e. Projeto Batente, Fortaleza - CE, 5 de julho de 2021. Educação. Disponível em: <https://projetobatente.com.br/arquiteto-tem-que-empreender>. Acesso em: [-dia, mês e ano.-]