Arquitetura Marginal
Um novo olhar?

“Seja marginal, seja herói”. Com essa frase, o artista plástico Hélio Oiticica sintetizou uma série de trabalhos que ficou conhecida como Marginália. Na Literatura, onde também encontrou adeptos, o movimento ficou mais conhecido como poesia marginal. Foi um movimento cultural importante para uma geração que buscou através da Literatura uma atuação cultural distante dos padrões da Academia e indiferente à crítica literária. Seus pequenos textos, aliados a elementos visuais como fotografias e quadrinhos, são permeados pela coloquialidade, ironia, sarcasmo, gírias e humor. Do movimento literário, ficaram a inventividade artística e a vitalidade criativa, suas características predominantes. Seus principais representantes foram os poetas Paulo Leminski, José Agripino de Paula, Waly Salomão, Francisco Alvim, Torquato Neto, Chacal, Cacaso e Ana Cristina Cesar. Na música, seus maiores representantes foram Sérgio Sampaio, Tom Zé, Jorge Mautner, Jards Macalé e Luiz Melodia, considerados marginais ou “malditos” por terem sido preteridos pelas grandes gravadoras da época.

Trazendo para a arquitetura, a mesma, por ter um apelo visual muito forte, traz “verdades estéticas acadêmicas” sendo impostas através de desenhos de estilos puros e consagrados. Como barroco, moderno, gótico e etc. Estas representações, quando trazidas sem nenhum critério de adequação local, acabam por reduzir a arquitetura a apenas desenho. Sabemos que a arquitetura é muito mais que isto. A arquitetura é história, é cultura, é seu povo, seu lugar. Até pode-se dizer que o barroco tem uma história, que se tem uma voz. Que o moderno fala de uma época, de um povo. Mas a pergunta que fica é se essa história é a nossa? Se não estamos reféns a “verdades arquitetônicas” alheias a nossa gente? Que talvez exista uma arquitetura “correndo por fora”, “marginal” a esse academicismo, que tem uma fala que nós não estejamos escutando. Uma arquitetura que não seja feita apenas a partir do olho, mas também da experiência, do 4D, da história de um povoado e de seus cantadores. Veja bem, não se traduz a história e a cultura de um povo debaixo do desenho de um arco ogival!

De acordo com Amálio Pinheiro, professor na pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP, teorias antigas ou distantes, se submetidas a outra paisagem, têm de ser traduzidas para a nova dimensão de conhecimento e modificar, muitas vezes radicalmente, seu campo e método de aplicação.

Nesta situação, a arquitetura vernacular, tem uma função muito importante. De acordo com o arquiteto inglês Paul Oliver, a mesma é a “ciência da construção nativa”, marcada pelo seu caráter étnico, regional e local, apesar de muitas vezes não se ter o rigor técnico e acadêmico tem algo a contar, uma narrativa rica que fala a história de uma gente. Uma arquitetura espontânea que surge a partir das necessidades, porém, vista muitas vezes como “feia”, esta arquitetura traz uma narrativa muito bela. Narrativa esta impregnada na cultura local, nas letras das músicas de seus cantores e nas poesias de seus poetas.

Assim como os poetas marginais, que não se enquadram em uma análise conservadora, a arquitetura vernacular, ou como o arquiteto pesquisador Gunter Weimer se refere, a arquitetura popular, é uma alternativa, talvez, progressista, um novo olhar que pode trazer ricas contribuições para sua população. “Mas essas edificações nem projeto tem!”, dirão alguns, ansiosos por demolição e substituição por modelos “defasados”, confundindo projeto com pensamento. Confundindo a representação da arquitetura com a arquitetura enquanto representação, como já dizia a pesquisadora Lucrécia Ferrara. Todavia, é necessário se desaparelhar dos preconceitos academicistas e analisarmos essa produção a margem, muitas vezes esquecida. Ah… E quanto à “feiura”, podemos tentar exercitar o olhar para entender que o feio, de repente, não é oposto do belo, mas sim resistente a ele.

Como Citar essa Matéria
MATOS, Alesson. Três documentários para conhecer mais sobre o tema Criança e Cidade . Projeto Batente, Fortaleza - CE, 21 de maio de 2021. Arquitetura. Disponível em: <https://projetobatente.com.br/arquitetura-marginal>. Acesso em: [-dia, mês e ano.-]
Arquiteto Alesson Matos
Arquiteto e Engenheiro
Arquiteto especialista em gereciamento de projetos e sócio-diretor da Alesson Matos Arquitetos. Professor da Unichristus nos cursos de arquitetura e urbanismo, engenharia civil e engenharia de produção. Apaixonado por sua profissão, soma uma experiência de mais de 10 anos em desenvolvimento de projetos de edifícios residenciais, comerciais, industriais, condomínios residenciais, hotéis, loteamentos e praças.
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Arquiteto especialista em gereciamento de projetos e sócio-diretor da Alesson Matos Arquitetos. Professor da Unichristus nos cursos de arquitetura e urbanismo, engenharia civil e engenharia de produção. Apaixonado por sua profissão, soma uma experiência de mais de 10 anos em desenvolvimento de projetos de edifícios residenciais, comerciais, industriais, condomínios residenciais, hotéis, loteamentos e praças.

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