Brasil, mostra tua cara?  Brasil e a crise da identidade arquitetônica.
Read Time:2 Minute, 0 Second

Brasil, mostra tua cara?
Brasil e a crise da identidade arquitetônica.

0 0

A Expo Osaka 2025 reúne 158 países em torno de um tema poderoso: “Projetando a sociedade futura para nossas vidas”. Mais do que uma feira, a Expo é um palco global onde os países exibem suas visões de futuro por meio de arquitetura, tecnologia, ciência e cultura. Foi nesse tipo de evento que nasceram criações icônicas como o telefone (1876), a Torre Eiffel (1889), a roda-gigante e tantas outras expressões de avanço e identidade. É, historicamente, um espaço de afirmação simbólica, onde a arquitetura tem papel protagonista.

O Brasil, porém, não aproveitou essa chance.

Em vez de executar o projeto vencedor do concurso promovido em 2022 pelo IAB e pela ApexBrasil — assinado pelo renomado Studio MK27, do arquiteto Márcio Kogan — optou por um pavilhão padronizado, do Tipo X (a EXPO constrói o pavilhão para o país participante). É a primeira vez na história das Expos que um país recorre a esse modelo. Segundo a Apex, a decisão visava reduzir custos e garantir o cumprimento do cronograma. O problema é que, mesmo assim, o pavilhão brasileiro já foi adiado três vezes, ao contrário dos demais países.

O novo projeto ficou sob direção de Beatriz Lessa, artista de excelência, com notório trabalho em teatro, ópera, exposições e museus. Ela propôs uma “floresta inflável” como experiência imersiva. A proposta é legítima enquanto expressão cênica — mas é preciso dizer com clareza: o que se esperava era um pavilhão arquitetônico, e o que se entregou foi um dispositivo cenográfico. Houve, sim, uma quebra de expectativa. Inicialmente, a floresta seria feita com sacolas plásticas — material altamente inflamável — depois substituído por nylon. No dia 4 de abril, um princípio de incêndio mobilizou 16 viaturas de bombeiros. O fogo atingiu o teto e parte da fiação elétrica. A nova previsão de abertura do pavilhão brasileiro é dia 14 de maio. A depender do cenário, será um alívio… mas não um orgulho.

E então, ecoa a pergunta que atravessa gerações: “Brasil, mostra tua cara…”
O que se perdeu não foi apenas uma estrutura física. Perdeu-se uma chance valiosa de comunicar ao mundo uma identidade arquitetônica potente, tropical, inovadora — que existe, e foi ignorada.

A arquitetura é uma das linguagens mais estratégicas para projetar uma nação no cenário global. Quando ela é substituída por improvisos, perdemos todos: profissionais, instituições e cidadãos. Que isso sirva de lição. Porque o mundo está olhando — e a nossa ausência também comunica.

About Post Author

Vinícius Macêdo

Arquiteto e Urbanista, especialista em arquitetura e projeto sustentável. É entusiasta da criatividade, adora arte, design, fotografia, cinema, sempre que tem um tempo livre gosta de pegar um livro na estante e/ou viajar. Hoje está a frente Estúdio Vinicius Macêdo, um escritório que trabalha principalmente com arquitetura e interiores em projetos residenciais, comerciais e institucionais. Acredita que a arquitetura tem o poder de transformar e melhorar a vida das pessoas e é isso que o faz acordar todos os dias de manhã.
Happy
Happy
100 %
Sad
Sad
0 %
Excited
Excited
0 %
Sleepy
Sleepy
0 %
Angry
Angry
0 %
Surprise
Surprise
0 %

Average Rating

5 Star
0%
4 Star
0%
3 Star
0%
2 Star
0%
1 Star
0%

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *