Descomplicando Acústica – Parte 2
Tempo ótimo de reverberação.

Por diversas vezes nos deparamos em situações que não conseguimos compreender muito bem o som e acredite, nem sempre o problema está em nossa audição.

No artigo anterior desta série, falamos um pouco de como as ondas sonoras são captadas pelo nosso sistema auditivo, porém, é importante termos em mente que, em situações cotidianas, entre a fonte emissora e o receptor do som, o caminho nem sempre é direto, ou melhor, o quase nunca é apenas direto.

Isto ocorre devido ao som ser uma onda mecânica, na qual necessita de um meio de transmissão e de ele ser tridimensional, propagando-se por todas as direções. Deste modo, considerando o meio em que vivemos, temos que ter em mente que, dentro de qualquer ambiente, a onda sonora percorre o seu trajeto não apenas pelo ar, mas também pelos elementos construídos.

Sabendo disso, agora podemos classificar alguns conceitos importantes para então correlacionarmos na sensação de conforto.

A reflexão e absorção, por exemplo, ocorrem quando o som, propagado pelo ar, atinge outras superfícies e é refletido ou absorvido. Cada material, com suas devidas propriedades, é capaz de refletir ou absorver as ondas sonoras, ou melhor, determinadas faixas de frequências contidas no som. É mais ou menos como ocorre com as cores, sabe aquela propriedade de a luz é composta de todas cores (frequências visíveis) e, quando atinge uma superfície o que vemos e que chamamos de cor é  na verdade a luz refletida?

Fonte: Teoria da cor.

Um termos às vezes confundido com a reflexão é a difração. Para que não haja mais dúvidas, ela ocorre quando as ondas sonoras são desviadas ou espalhadas ao encontrarem um obstáculo em seu caminho. No meio líquido é mais fácil observarmos este efeito. Em enseadas, como a Baía de São Martinho do Porto em Portugal, podemos perceber que as ondas ao vencerem obstáculo que afunila a passagem da água provoca o espalhamento das ondas.

Fonte: Google Earth.

Já a refração ocorre quando a mudança na direção da onda se dá devido à mudança de um meio de propagação para outro meio. Isto ocorre porque em meios diferentes a velocidade da onda varia causando esse efeito. Nos casos sonoros, é muito comum quando há mudanças de temperaturas. Caso análogo à mudança do meio, podemos observar quando colocamos um lápis dentro de um copo com água e então notamos o desvio de sua imagem pois estamos olhando através de dois meios diferentes: o ar e a água.

Refração de um lápis em copo de água.

Um dos principais elementos considerados nos estudo do conforto acústico para a qualidade do som é o controle da reverberação. Geralmente ela é sentida quando há uma sobreposição de sons confundindo o som direto e o refletido que chegam ao receptor de forma assíncrona dando a sensação de ser mais prolongado. Um efeito mais perceptível e decorrente da reverberação, é quando a diferença entre o som direto e o refletido que chega ao ouvido 1/20 segundos ou mais,  que chamamos de eco.

No caso da qualidade do som, a NBR 12179 vai lidar diretamente com o tratamento acústico em recintos fechados definido que é “o processo pelo qual procura dar a um recinto, pela finalidade a que se destina, condições que permitam boa audição às pessoas nele presentes.”

Apesar de sua menção ao isolamento acústico fixando à NBR 10152 sobre os níveis sonoros admissíveis dentro dos recintos e de apresentar uma tabela do valor de isolamento acústico de alguns materiais, a NBR 12179 se debruça muito mais no condicionamento acústico através do estudo geométrico e do cálculo do tempo de reverberação nos recintos.

Sendo assim, precisamos entender que uma voz falada, um canto gregoriano, um show de rock ou qualquer outra atividade que possamos imaginar na qual se necessite de uma compreensão do som, precisa ter característica que realcem sua finalidade. Para isto, precisamos nos apropriar da definição do termo tempo ótimo de reverberação que é “o tempo de reverberação considerado ótimo para um determinado recinto e determinada atividade, e expresso em segundos”.

Fonte: ABNT NBR 12179

Basicamente, como vimos, os materiais têm a propriedade de absorver e refletir determinadas frequências de ondas sonoras dependendo de suas propriedades. Para isto, consideramos o coeficiente de absorção sonora que, de acordo com a norma estão separados em frequências de 125Hz, 250Hz, 500Hz, 1000Hz, 2000Hz e 4000Hz. Percebemos então que os materiais absorvem em níveis diferentes as frequências das ondas sonoras.

Chegar no tempo ótimo então é equilibrar essas frequências que chegam ao ouvido do receptor de modo a dar mais qualidade ao som da atividade que acontece no recinto. Porém, além de levar em consideração os coeficientes de absorção desses materiais, o que nos deixa claro que para um melhor controle precisamos saber quais aplicar materiais e suas devidas proporções, precisaremos também levar em consideração a ocupação dos recintos. Como o corpo humano tem influência direta na absorção sonora e calcular o tempo ótimo para uma sala vazia pode ser um desastre quando na sua total ocupação.

Para quem tiver curiosidade e queira fazer algumas simulações rápidas, fica aqui o link para baixar uma planilha desenvolvida pelo LABAUT, o Laboratório de Conforto Ambiental e Eficiência Energética da FAU USP:

Planilha da LABAUT

Abraços,

Tiago Souza

Como Citar essa Matéria
SOUZA, Tiago. Descomplicando Acústica - Parte 2. Projeto Batente, Fortaleza - CE, 4 de setembro de 2020. Educação. Disponível em: <https://projetobatente.com.br/descomplicando-acustica-parte-2>. Acesso em: [-dia, mês e ano.-]
Tiago Souza
Arquiteto e Urbanista
Graduado em Arquitetura e Urbanismo e mestre em Construção Civil pela Universidade Federal do Ceará.
Sócio do escritório Arqtech Brasil, o que mais gosta de projetar são casas pois é, para ele, a ligação mais direta com o cotidiano das pessoas. Perceber a individualidade de cada um, o faz crer, cada vez mais, que arquitetura é, quase parafraseando o livro de Jan Gehl, para pessoas.

Tiago Souza

Graduado em Arquitetura e Urbanismo e mestre em Construção Civil pela Universidade Federal do Ceará. Sócio do escritório Arqtech Brasil, o que mais gosta de projetar são casas pois é, para ele, a ligação mais direta com o cotidiano das pessoas. Perceber a individualidade de cada um, o faz crer, cada vez mais, que arquitetura é, quase parafraseando o livro de Jan Gehl, para pessoas.

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