Descomplicando Acústica. Parte1 – Compreendendo o som.
Apesar de toda tecnologia que temos a nosso favor muitos arquitetos negligenciam o tema?

Não é necessário sair de casa.
Permaneça em sua mesa e ouça.
Não apenas ouça, mas espere.
Não apenas espere, mas fique sozinho em silêncio.
Então o mundo se apresentará desmascarado.
Em êxtase, se dobrará sobre os seus pés.”
Franz Kafka

Toda vez que se fala em conforto acústico imaginamos de imediato cálculos complexos, em escalas logarítmicas com tabelas de ponderações e etc. Tudo perfeitamente indigesto para a maioria de nós termos a repulsa pelo tema. Mas, se Vitruvius que viveu no século 1 A.C. já escreveu recomendações para a acústica dos anfiteatros considerando, sua geometria, proporções e disposição dos espectadores de modo a não atrapalhar o entendimento dos espetáculos, por que hoje, apesar de toda tecnologia que temos a nosso favor muitos arquitetos negligenciam o tema?

Planta baixa do Teatro de Dionísio. Fonte

Talvez a resposta esteja no modo como as disciplinas são aplicadas nas faculdades onde começamos aprendendo a aplicar diversas fórmulas e cálculos sem antes entendermos o que queremos de resultado afinal.

Primeiro, é importante compreendermos o que é e como percebemos o som de uma forma simples, ligando-o diretamente a dois atores imprescindíveis neste entendimento: a fonte emissora e a receptora. Uma corda de violão, por exemplo,  ao ser dedilhada ela é claramente uma fonte emissora. Sua vibração se propaga através das moléculas do ar até chegar a um receptor que decodifica essas ondas sonoras. Porém, uma cordão de violão também pode ser considerada como receptora. É curioso observarmos que um som emitido na sua mesma nota musical (frequência) e próximo à ela, a fará oscilar num fenômeno chamado de vibração por simpatia, que ocorre quando quando um elemento passa a “ressonar na mesma frequência que outro”. Este efeito é bem parecido com ocorrido no caso da ponte de Tacoma Narrows, que colapsou com efeito de ressonância criado a partir do da coincidência das frequência do vento.

Ponte de Tacoma Narrows. Fonte

As questões ligadas ao conforto até deveriam levar em consideração à ressonância das edificações, afinal, ninguém se sente totalmente à vontade em uma ponte ou um prédio que balança, mas no que tange ao conforto acústico, basicamente estamos preocupados quando nós somos os receptores destas ondas sonoras.

O que precisamos entender no complexo sistema do nosso aparelho auditivo, é que ele basicamente funciona nos mesmos princípios de propagação e vibração para a captação do som através do ouvido. No caso, as ondas sonoras, após captadas pelo ouvido externo,  penetrarem o ouvido médio, percorrendo todo o canal auditivo até chegar ao tímpano, uma membrana que passa a vibrar ativando dois ossos chamados martelo e bigorna que por sua vez aciona o estribo. Estes instrumentos servem como amplificadores do som que o direcionam para o ouvido interno. Nele, se propagam de forma mais rápida num líquido imerso na cólcega que estimulam células nervosa responsáveis por enviar sinapses decodificadas pelo nosso cérebro como sons ou ruídos.

Modelo do sistema auditivo. Fonte

É importante classificar estes sinais como sons ou ruídos pois isto é fundamental para uma boa aplicação de acústica em projetos. Por se tratar de uma área em que os efeitos psicológicos são levados em consideração, o que é som para alguns pode ser muitas vezes um ruído para outros, como, por exemplo, um evento de rock é um “sonzaço” para os espectadores enquanto que, para os pacientes em recuperação de um hospital próximo a ele, as ondas sonoras passam a ser um terror. (Sim, isto ocorreu por algum tempo na cidade de Fortaleza, Ceará)

Tomando essa diferença entre som e ruído, podemos diferenciar o estudo da acústica em dois blocos: O primeiro que tratará da qualidade do som e o segundo da diminuição do ruído, trabalhando assim absorção e atenuação sonora para dar qualidade e conforto aos usuários dos ambientes em estudo. Este é o tema a ser aprofundado brevemente.

Abraços.

Tiago Souza
Arquiteto e Urbanista
Graduado em Arquitetura e Urbanismo e mestre em Construção Civil pela Universidade Federal do Ceará.
Sócio do escritório Arqtech Brasil, o que mais gosta de projetar são casas pois é, para ele, a ligação mais direta com o cotidiano das pessoas. Perceber a individualidade de cada um, o faz crer, cada vez mais, que arquitetura é, quase parafraseando o livro de Jan Gehl, para pessoas.

Tiago Souza

Graduado em Arquitetura e Urbanismo e mestre em Construção Civil pela Universidade Federal do Ceará. Sócio do escritório Arqtech Brasil, o que mais gosta de projetar são casas pois é, para ele, a ligação mais direta com o cotidiano das pessoas. Perceber a individualidade de cada um, o faz crer, cada vez mais, que arquitetura é, quase parafraseando o livro de Jan Gehl, para pessoas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *