Infiltrando olhares
A visibilidade como criação e preservação do lugar

O que nos chama atenção quando olhamos para qualquer objeto estável? Quais são os pontos de interesse dos nossos olhos ao observamos uma cena panorâmica? Será que onde a vista repousa é onde reside um determinado lugar?

Para o geógrafo Yi-Fu Tuan, espaço e lugar são termos familiares que indicam experiências comuns. O lugar é segurança e o espaço é liberdade: estamos ligados ao primeiro e desejamos o outro. O lugar pode ser desde a velha casa, o velho bairro, a velha cidade ou a pátria.

É bem comum que muitos lugares, altamente significantes para certos indivíduos ou grupos, tenham pouca notoriedade visual. São conhecidos emocionalmente por relatos, por comportamentos comunitários e não através do olho crítico ou da mente. A arte literária é fundamental para dar visibilidade a essas experiências íntimas, inclusive as de lugar.

Centro de Manaus. Fonte: Desconhecido.

 

O monumento ou uma simples escultura, por exemplo, é um elemento morfológico individualizado pela sua presença, configuração e posicionamento na cidade e pelo seu significado. Com isso, percebe-se que esses elementos têm poder de criar uma sensação de lugar pela sua própria presença física. Em contrapartida, a maioria dos monumentos não pode sobreviver à decadência de sua cultura. Quanto mais representativo o objeto, menor a probabilidade de se preservar com o passar do tempo, onde a maioria dos símbolos públicos perdem seu status como lugar e simplesmente obstruem o espaço.

Uma peça de escultura parece encarnar a humanidade e ser o centro de seu próprio mundo. Apesar de uma estátua ser um objeto em nosso campo de percepção, parece criar seu próprio espaço. – Yi-Fu Tuan

Estátua de Iracema, a guardiã. Foto: Rodrigo Carvalho

Arquitetos e urbanistas definem bairros urbanos como uma área de características físicas e socioeconômicas bem definidas e sendo assim lugares, não são percebidos dessa maneira pela população que lá reside. Já a rua onde moram, é parte da experiência íntima de cada um. Tuan afirma que a unidade maior adquire visibilidade através de um esforço da mente. Então, o bairro inteiro torna-se um lugar. Todavia, é um lugar conceitual e não envolve as emoções. Elas começam a dar cor ao bairro inteiro quando se percebe que ele tem rivais e que está sendo ameaçado de alguma maneira, real ou imaginária.

Portanto, existem formas de colocar o lugar em primeiro plano e potencializar a apropriação por parte de um grupo social: proeminência visual e o poder evocativo da arte, boa arquitetura, planejamento urbano, cerimônias e ritos.

Os lugares humanos se tornam muito mais reais através da dramatização. Alcança-se a identidade do lugar pela dramatização das aspirações, necessidades e ritos funcionais da vida pessoal e dos grupos, expondo a população como protagonista de qualquer operação a ser empreendida.

REFERÊNCIA
TUAN, Yi-Fu. 1983. Espaço e Lugar. São Paulo. Difel, 250p.
Como Citar essa Matéria
DIEGO, Francisco. Infiltrando olhares. Projeto Batente, Fortaleza - CE, 12 de agosto de 2019. Arquitetura e Urbanismo. Disponível em: <https://projetobatente.com.br/infiltrando-olhares/>. Acesso em: [-dia, mês e ano.-]

 

Francisco Diego
Arquiteto e Urbanista
Arquiteto Urbanista membro do Estúdio Andar Plural, com profunda admiração pelo urbanismo em sua explosão de sentidos e afetos. Também é artista plástico e desenhista autodidata desde os 12 anos de idade com diversas experimentações artísticas, como colagens, pinturas e reutilização de fragmentos, e busca na teoria da arte-educação o caminho para o desenvolvimento pessoal e profissional.

Francisco Diego

Arquiteto Urbanista membro do Estúdio Andar Plural, com profunda admiração pelo urbanismo em sua explosão de sentidos e afetos. Também é artista plástico e desenhista autodidata desde os 12 anos de idade com diversas experimentações artísticas, como colagens, pinturas e reutilização de fragmentos, e busca na teoria da arte-educação o caminho para o desenvolvimento pessoal e profissional.

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