O Lugar da Cidade
coexistência, debate e insurgências urbanas

Quando paramos para analisar o verdadeiro sentido da cidade nos confrontamos com inúmeros questionamentos, principalmente quando nos deparamos com conceitos que se contradizem e que muito confundem: há diferença entre cidade e urbano?

Para o professor Milton Santos, a cidade é o concreto, o conjunto de redes e a materialidade visível do urbano enquanto que este é o abstrato, porém o que dá sentido e natureza a cidade. 

Esse conceito parece ficar muito claro quando associamos a cidade como campo tecnicista, onde se aplica técnica. A técnica é antes de tudo um saber prático, que advém do trabalho. Aliás, tekné em grego, significa trabalho. A cidade é o lugar da acumulação técnica. Entretanto, essa técnica que dá ritmo ao tempo e acelera a duração permeia também na liberdade do sujeito de corpo e alma e nas suas imaginações cotidianas. Ou seja, permeia também no urbano.

Screenshot do filme Playtime (Jasques Tati, 1967)

Essa liberdade de imaginação é muito visível em nossos comportamentos, e ainda somos permitidos, a todo instante, a criarmos e recriarmos laços sociais, abandonarmos culturas ultrapassadas e assumirmos conteúdos culturais insurgentes. É nessa escala da coexistência que o lugar e a natureza da cidade se estabelece. A geógrafa Maria Adélia Souza, principal referência para a elaboração deste artigo ainda afirma que a cidade não produz apenas liberdade, ela instaura redes de ação e de resistência contra a falta dela e, principalmente, contra a desigualdade. 

Dentre as inúmeras escalas da cidade, talvez a mais importante seja a da coexistência. E necessário assumir a cidade como lugar de debate. Para Maria Adélia, o urbanismo racional-funcionalista que impregnou as cidades deste século, falhou ao separar as funções da cidade por zona, feriu este princípio da coexistência que é o debate, destruindo, portanto, a urbanidade.

Foto: Boa Mistura

Uma das minhas matérias publicadas aqui no Projeto Batente, a que fala de Cidadania Insurgente, menciono a importância da coexistência, principal fundamento da liberdade. Ela precisa ser notada, debatida e posta em prática, pois esse movimento apresenta um potencial mitigador em relação aos problemas de escala local ou regional, transformando a relação do indivíduo com o espaço na qual ele vive, convive e habita.

Contudo, o lugar da cidade é tudo isso e mais um pouco. É, como diz Maria Adélia, o lugar do encontro da diferença, da liberdade, da igualdade. É o lugar, a geografia da existência.  

Referência

Souza, Maria Adélia Aparecida de (1997), Cidade: Lugar e geografia da existência, 5º Simpósio Nacional de Geografia Urbana, de 21 a 24 de outubro, Salvador.

Como Citar essa Matéria
DIEGO, Francisco. O Lugar da Cidade . Projeto Batente, Fortaleza - CE, 8 de junho de 2021. Urbanismo. Disponível em: <https://projetobatente.com.br/o-lugar-da-cidade/>. Acesso em: [-dia, mês e ano.-]

Francisco Diego
Arquiteto e Urbanista
Arquiteto Urbanista membro do Estúdio Andar Plural, com profunda admiração pelo urbanismo em sua explosão de sentidos e afetos. Também é artista plástico e desenhista autodidata desde os 12 anos de idade com diversas experimentações artísticas, como colagens, pinturas e reutilização de fragmentos, e busca na teoria da arte-educação o caminho para o desenvolvimento pessoal e profissional.

Francisco Diego

Arquiteto Urbanista membro do Estúdio Andar Plural, com profunda admiração pelo urbanismo em sua explosão de sentidos e afetos. Também é artista plástico e desenhista autodidata desde os 12 anos de idade com diversas experimentações artísticas, como colagens, pinturas e reutilização de fragmentos, e busca na teoria da arte-educação o caminho para o desenvolvimento pessoal e profissional.

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