Onde tem sol, tem (que ter) sombra
Criar sombra deve ser a principal preocupação do arquiteto ao projetar para o Nordeste.

Quem vive no sertão tem a sensação de que o sol é mais baixo. Isso piora consideravelmente nos meses “BRO”, de setembro a dezembro. Nessa época parece que ele fica logo ali, bem acima das nossas cabeças, torrando o nosso juízo. Além da enorme quantidade de calor emanado pela bola de fogo, uma explosão de luz ofusca os nossos olhos e desbota até o azul do nosso céu. Tudo é iluminado, doze horas por dia, todos os meses do ano.

O fato é que onde tem sol, tem sombra. Ou pelo menos deveria ter, claro. Infelizmente não é esse o caso e encontrar abrigo por aqui pode ser uma tarefa bem complicada. O nordestino  desde cedo tem que aprender a se proteger no que encontra ao seu redor. Pode ser embaixo de uma árvore, na ponta de uma marquise, na silhueta de um poste ou até mesmo na aba do seu chapéu. Quando não tem nada disso, é torcer pra vir uma nuvem bem grande e esconder o sol inclemente, nem que seja por alguns segundos. É um momento de alívio extremo, mas passageiro. Não é por acaso que aqui no nordeste, demos um novo nome ao guarda-chuva, sombrinha parece ser muito mais apropriado (e útil) nas terras de cá. 

Dentre as possibilidades de sombra temos a natural e a artificial. A natural é formada principalmente pela copa das árvores e pode gerar uma sombra compacta como a da Mangueira ou ainda uma sombra pulverizada como a do Cajueiro. As duas têm as suas qualidades seja barrando totalmente a luz do sol ou apenas filtrando-a. A realidade é que por aqui muitas atividades acontecem sob as copas das árvores desde uma conversa despretensiosa, um comércio ou até mesmo uma aula, por quê não? Lembro-me de uma história na zona rural de uma cidade do interior do Ceará em que as aulas estavam acontecendo embaixo de um pé de Juazeiro simplesmente pelo fato da sala de aula ser muito quente.

Sombra do Cajueiro.

Na ausência de uma sombra natural, cabe a nós arquitetos criarmos uma sombra artificial. E essa é a principal preocupação que devemos ter quando projetamos por aqui. Armando de Holanda (1978) nos mostrou isso muito bem quando iniciou o seu Roteiro para construir no Nordeste com o criar uma sombra:

“Comecemos com uma ampla sombra, por um abrigo protetor do sol e das chuvas tropicais; por uma sombra aberta onde a brisa penetre e circule livremente, retirando o calor e a umidade; por uma sombra amena, lançando mão de uma coberta ventilada, que reflita e isole a radiação do sol; por uma sombra alta, por desafogo de espaço e muito ar para se respirar.”

Definitivamente, não é algo que podemos economizar. Por estarmos bem próximos à linha do Equador, a quantidade de luz e calor é imensa vindo de cima, do zênite. Portanto, um beiral muito pequeno, uma marquise mal dimensionada ou até mesmo a inexistência de uma varanda tem, pra gente, um peso muito maior. Porém, barrar totalmente a luz não é algo desejável. Acionar uma luz artificial dentro de uma edificação durante o dia não é inteligente, uma vez que temos uma infinidade de luz natural lá fora. 

O ideal é que ela consiga iluminar o interior da edificação, seja por pequenas aberturas estrategicamente posicionadas, seja filtrada por algum elemento vazado, funcionando quase como uma copa de um cajueiro.  Tomemos partido dessa imensa quantidade de luz para criarmos sombras bem definidas e expressivas, que é o que a gente gosta.

Como Citar essa Matéria
ARQUITETOS, Lins. Onde tem sol, tem (que ter) sombra. Projeto Batente, Fortaleza - CE, 08 de julho de 2020. Arquitetura. Disponível em: <https://projetobatente.com.br/onde-tem-sol-tem-que-ter-sombra>. Acesso em: [-dia, mês e ano.-]
Lins Arquitetos
Escritório de Arquitetura
Com sede em Juazeiro do Norte e em Fortaleza elaboram projetos respeitando o local de intervenção, adaptando o edifício ao clima, absorvendo aspectos culturais e utilizando materiais e mão de obra presentes na região

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