Percursos Fotográficos
A intenção, o ato do registro e os caminhos percorridos

Para o autor Boris Kossoy, autor do livro Fotografia e História, toda fotografia tem sua origem a partir do desejo de um indivíduo que se viu motivado a congelar em imagem um aspecto dado do real, em determinado lugar e época. Onde o homem, o tema e a técnica específica (esta, por mais avançada que seja) são em essência os componentes fundamentais de todos os processos destinados à produção de imagens de qualquer espécie.

Com isso, esse produto final, a fotografia, é resultante da ação do homem, o fotógrafo, profissional ou não; E em determinado espaço e tempo optou por um assunto em especial e que, para seu devido registro, empregou os recursos oferecido pela tecnologia.

Na arquitetura, por exemplo, as documentações transcendem a técnica, as linhas paralelas, os desenhos em nanquim e a escala. A multiplicação de documentos, especialmente a fotografia, evidenciou a necessidade de se estudar o significado e o conteúdo cultural desses registros. Um estudo crítico e reflexivo sobre as fotografias deve se preocupar em situar os interesses que direcionaram a produção, circulação e recepção destas imagens e em desvendar o significado que emerge da narrativa visual.

Casa na esquina da praça Gustavo Barroso (Praça do Liceu) com a Avenida Philomeno Gomes, em Fortaleza-CE. Foto: Arquivo Nirez
Edificio Granville, projetado pelo arquiteto Acácio Gil Borsoi. Fonte: Guia da arquitetura moderna de Fortaleza

O ato do registro, ou o processo que deu origem a uma representação fotográfica, tem seu desenrolar em um momento histórico específico (caracterizado por um determinado contexto econômico, social, político, religioso, estético, etc.).

Atrizes na passeata dos Cem Mil, no Rio de Janeiro, em 26 de Junho de 1968. Foto: Agência JB / Jornal do Brasil

A fotografia original, conhecida pelos teóricos como objeto-imagem de primeira geração é essencialmente um objeto museológico, e como tal tem sua importância específica para a história da técnica fotográfica, além de seu valor histórico intrínseco, enquanto o de segunda geração, reproduzida sob os mais diferentes meios, é, em função da multiplicação do conteúdo (particularmente quando publicado), fundamentalmente um instrumento de disseminação da informação histórico-cultural.

Canoeiros embarcando passageiros no Rio Acaraú, na cidade de Sobral-CE. Ao fundo a composição paisagística: serra, monumentos, etc. Fonte: Facebook Memórias do bairro Dom Expedito

Toda fotografia representa em seu conteúdo uma interrupção do tempo e, portanto, da vida.

Boris Kossoy

Portanto, olhar para uma fotografia do passado e refletir sobre seus tempos e a trajetória por ela percorrida é situá-la em pelo menos três estágios bem definidos que marcaram sua existência. Em primeiro lugar houve uma intenção pra que ela existisse, a partir disso teve lugar o segundo estágio: o ato do registro e por fim, o terceiro estágio: os caminhos percorridos por esta fotografia. Quais olhos viram? Quais porta-retratos emolduraram? Quais álbuns a guardaram?

Estas inquietações nos fazem perceber que a fotografia é uma das principais fontes históricas se a tomarmos como um fragmento de realidade, um aspecto do passado, em que a decisão de registro e fixação de um determinado dado foi uma opção do autor. Permitir conhecer aspectos simbólicos da memória coletiva e trazer expressões vividas em outros tempos, nos permite ir muito além de meras descrições e mergulhar na essência de uma sociedade, trazendo respostas para o hoje e também para o amanhã.  

Francisco Diego
Arquiteto e Urbanista
Arquiteto Urbanista membro do Estúdio Andar Plural, com profunda admiração pelo urbanismo em sua explosão de sentidos e afetos. Também é artista plástico e desenhista autodidata desde os 12 anos de idade com diversas experimentações artísticas, como colagens, pinturas e reutilização de fragmentos, e busca na teoria da arte-educação o caminho para o desenvolvimento pessoal e profissional.

Francisco Diego

Arquiteto Urbanista membro do Estúdio Andar Plural, com profunda admiração pelo urbanismo em sua explosão de sentidos e afetos. Também é artista plástico e desenhista autodidata desde os 12 anos de idade com diversas experimentações artísticas, como colagens, pinturas e reutilização de fragmentos, e busca na teoria da arte-educação o caminho para o desenvolvimento pessoal e profissional.

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