Práxis do urbanismo em perspectiva
Uma discussão sobre a práxis do urbanismo e seus campos cegos.

No âmbito da filosofia marxista, o conceito de práxis, elemento central do materialismo histórico, é entendido como a relação dialética entre teoria e prática. Conforme afirma Marx, o que importa para o pensamento não é apenas a interpretação do mundo, mas sim sua transformação. Isso significa que seu cerne é o pensamento capaz de orientar ações a favor de uma transformação concreta da realidade. A reflexão crítica a respeito da teoria e da prática do urbanismo é fundamental do ponto de vista de uma campo que necessita superar suas contradições e avançar em sua práxis. 

Em 1970,  Henri Lefebvre realiza a publicação do seu livro A Revolução Urbana. O autor constrói uma crítica radical do urbanismo. Crítica que permeia a sua obra e tem início ainda no livro Direito à Cidade. Sua argumentação está fundamentada na produção do conhecimento acerca da problemática urbana que ocorre com uma série de distorções, que comporta um branco (vazio) ou ainda que constitui um campo cego.

Na análise da produção do espaço, os campos cegos consistem, sobretudo, em uma teoria e uma prática urbana submetida às exigências da racionalidade empresarial, da ótica da industrialização que é redutora e fragmentada. Entendendo os conceitos como lentes que se usa pra perceber a realidade, o campo cego surge quando tentamos analisar uma realidade a partir de conceitos que não são suficientes para explicá-la e, ao invés de trazer luz para e entendimento, traz uma sombra que a oculta e a distorce. Esses conceitos são, portanto, ideológicos e como tal, deformam a realidade, por esse motivo, não dão conta do fenômeno urbano, ao contrário de promover uma explicação, acabam por cegar. Neste sentido, para o autor, o urbanismo cumpre um papel decisivo nesse processo enquanto ideologia que dificulta a compreensão do próprio urbano, ou seja, o urbanismo concebe um cenário do urbano e da cidade que é falso, portanto, ideológico funcionando, nesse sentido, como um instrumento de dominação de classes.

Exatamente após 50 anos da revolução urbana proposta por H. Lefebvre o urbanismo continua obediente à lógica do mercado e da financeirização, como forma de ideologia. Portanto, um novo instrumental teórico precisa ser elaborado de modo a permitir enxergar a realidade ou a totalidade. É nesse sentido que a práxis urbana, mais especificamente aquela nas análises teóricas e práticas no contexto urbano do século XXI, necessita ser reinventada. O urbanismo atual precisa prestar sua contribuição na construção de uma verdadeira práxis urbana, através da realização de um esforço de reflexão que nos permita compreender e também agir sobre as novas formas e significados do urbano, ao invés de continuar cegos.

Como Citar essa Matéria
TARAMELA. Práxis do urbanismo em perspectiva. Projeto Batente, Fortaleza - CE, 17 de junho de 2020. Urbanismo. Disponível em: <https://projetobatente.com.br/praxis-do-urbanismo-em-perspectiva>. Acesso em: [-dia, mês e ano.-]
Taramela
Organização da Sociedade Civil sem fins lucrativos
Atualmente a Taramela está consolidada como uma Organização da Sociedade Civil sem fins lucrativos, composta por seis arquitetas urbanistas e um arquiteto urbanista, além de contar com colaboradores de áreas como o Direito, Engenharia e Assistência Social. Atua na cidade de Fortaleza, no trabalho pela efetivação do direito à cidade e democratização do acesso ao profissional de arquitetura e urbanismo, a fim de reduzir as desigualdades socioespaciais e promover autonomia e cidadania aos grupos socialmente vulneráveis.

Taramela

Atualmente a Taramela está consolidada como uma Organização da Sociedade Civil sem fins lucrativos, composta por seis arquitetas urbanistas e um arquiteto urbanista, além de contar com colaboradores de áreas como o Direito, Engenharia e Assistência Social. Atua na cidade de Fortaleza, no trabalho pela efetivação do direito à cidade e democratização do acesso ao profissional de arquitetura e urbanismo, a fim de reduzir as desigualdades socioespaciais e promover autonomia e cidadania aos grupos socialmente vulneráveis.

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