Sobre competências e recursos
Os casos da Apollo 13 e dos hospitais de Wuhan exigiram uma rápida resposta para algo imprevisto e urgente

Em abril de 1970, os tripulantes da Apollo 13 relataram um problema durante a viagem à Lua. A célebre frase original foi “OK, Houston, we’ve had a problem here” (Ok, Houston, nós tivemos um problema aqui) mas foi alterada para “Houston, nós temos um problema” pela indústria cinematográfica.

Dentre outros acontecimentos daquela expedição, um tanque de oxigênio havia explodido e, por isso, a missão foi abortada. Os astronautas precisavam voltar para a Terra. Durante o retorno, os eles tiveram que se abrigar no Módulo Lunar (ML), racionalizar água e oxigênio, reconfigurar os parâmetros do sistema operacional de controle de voo do ML, e melhorar o sistema de filtragem de ar para remover o CO2. Todas essas operações foram auxiliadas por engenheiros que estavam em solo e comunicavam-se remotamente com os astronautas para encontrar uma solução com os recursos disponíveis na Apollo 13.

Fonte: The Wall Street Journal

Em se tratando do objetivo inicial da missão, a viagem não foi bem sucedida. Porém, quando analisamos a capacidade que a equipe teve em trazer a tripulação a salvo, podemos atribuir relativo sucesso para a expedição, uma vez que parte do objetivo, retorno dos astronautas, foi cumprido. Diferentes competências e áreas de conhecimento foram fundamentais para solução do problema inesperado. É importante saber que:

“Uma competência se refere a um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes que deve ser desenvolvido para se resolver determinado problema ou tarefa. […] Diz respeito à inteligência prática e a capacidade de desenvolver um trabalho ou resolver um problema. Neste sentido, um conhecimento construído sobre determinado tema só adquire status de competência quando aplicado em uma situação concreta”

(CHECCUCCI, 2014).

De volta para o presente, em janeiro de 2020, a China construiu dois hospitais em Wuhan para suprir a insuficiência dos recursos médicos existentes para atender a pandemia da Covid-19: o Huoshenshan em menos 10 dias com mil leitos, dois andares e área de 34 mil m²; e o Leishenshan, com 1,6 mil leitos e área de 219 mil m² construído em 7 dias. Deve-se pontuar que essa velocidade só foi possível graças a adoção de um sistema de construção modular pré-fabricado.

Os casos da Apollo 13 e dos hospitais de Wuhan exigiram uma rápida resposta para algo imprevisto e urgente com objetivo de salvar vidas. Não é meu objetivo neste texto analisar o planejamento da missão espacial ou o sistema de saúde chinês. A intenção é mostrar que, nestes dois exemplos, os envolvidos tiveram competência para resolver o problema, e além disso, uma grande disponibilidade de mão de obra e de equipamentos.

A pandemia da Covid-19 se espalhou mundo afora e não foi só a saúde que teve que se adaptar rapidamente. O isolamento social atingiu a todos e respostas tiveram que ser dadas em curto prazo. Entretanto, nem sempre as adaptações são causadas por mudanças repentinas. É frequente  nos depararmos com exemplos em que os problemas são cotidianos, previsíveis e evitáveis, mas faltam recursos (será?).

A: professor reproduz na lousa toda a tela do Word, processador de texto da Microsoft | B: estudante constrói a sua própria prancheta de papelão. | C: garoto de 14 anos cria moinho de vento para levar energia elétrica à sua família

Nesses casos das imagens acima não se trata somente de exaltar a competência daqueles que superam as adversidades, mas também de questionar o porquê de lhes faltarem recursos. Não é fácil entender por que faltam recursos para determinadas áreas (geográficas e funcionais), talvez porque não exista uma resposta tão convincente, e porque não haja justificativa mesmo. Concluo este breve texto convidando-os a algumas reflexões: Por que faltam recursos em algumas áreas? Quais recursos você não pode mais utilizar durante a pandemia da Covid-19? Quais você percebeu que não são tão imprescindíveis assim? Quais recursos e tecnologias você passou a utilizar por causa do isolamento social? E quais competências você desenvolveu neste período de mudanças repentinas durante a pandemia?

 

Referência:

CHECCUCCI, É. D. S. Ensino-aprendizagem de BIM nos Cursos de Graduação em Engenharia Civil e o Papel da Expressão Gráfica Neste Contexto. Tese (Doutorado Multi-institucional e Multidisciplinar em Difusão do) – Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Educação. Salvador. 2014.

Sites visitados:

Baldwin, Eric. “China constrói hospital em 10 dias para combater coronavírus” [China Completes Hospital in 10 Days to Fight Coronavirus] 04 Fev 2020. ArchDaily Brasil. (Trad. Baratto, Romullo) Acessado 21 Jun 2020. <https://www.archdaily.com.br/br/933151/china-constroi-hospital-em-10-dias-para-combater-coronavirus> ISSN 0719-8906

Buildin, acesso em 21 de jun de 2020

Charlezine, acesso em 21 de jun de 2020

Instagram @architects_need, acesso em 21 de jun de 2020

Metalica, acesso em 21 de jun de 2020

CGTN, acesso em 21 de jun de 2020

Super Interessante, acesso em 21 de jun de 2020

Tecnologia & Games, acesso em 21 de jun de 2020

Como Citar essa Matéria
PINHEIRO, Kelma. Sobre competências e recursos. Projeto Batente, Fortaleza - CE, 24 de junho de 2020. Educação. Disponível em: <https://projetobatente.com.br/sobre-competencias-e-recursos>. Acesso em: [-dia, mês e ano.-]

Kelma Pinheiro
Arquiteta e Urbanista
Arquiteta e Urbanista e professora universitária. Formada pela Universidade Federal do Ceará – UFC, mestre em Construção Civil pela Universidade Federal do Ceará – UFC, com pós-graduação em Gerenciamento de Projetos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ e pós-graduação em Projetos de Instalações Prediais pela Universidade de Fortaleza – Unifor.

Kelma Pinheiro

Arquiteta e Urbanista e professora universitária. Formada pela Universidade Federal do Ceará – UFC, mestre em Construção Civil pela Universidade Federal do Ceará – UFC, com pós-graduação em Gerenciamento de Projetos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ e pós-graduação em Projetos de Instalações Prediais pela Universidade de Fortaleza – Unifor.

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