Vamos desenhar? O desenho a mão livre como processo de desenvolvimento de projeto
Uma folha em branco. Muitas grandes ideias começaram apenas com isso. São tantas as possibilidades, são tantas as formas de se fazer uma mesma coisa e criar algo realmente excepcional. Lembrando que hoje a folha em branco pode ser a tela de um computador, de um notebook, tablet ou até mesmo de um celular. Existem softwares e apps como o Procreate, Morpholio Trace e Sketchbook Pro que possibilitam o desenho em telas. Não há como negar que a tecnologia otimizou o mercado de trabalho. Dito isto, o desenho à mão livre ainda é uma alternativa para os dias de hoje e para o futuro nos processos de arquitetura e urbanismo?!
Acredito que no desenvolvimento de projeto, o seu método deve ser o que você se sinta mais à vontade. Muitas vezes é uma metodologia que você já vem aprimorando no passar dos anos e hoje é o que te atende melhor. E pode ser que o ato de desenhar a mão não faça parte deste método. Porém, me permita mostrar algumas vantagens do ato de desenhar no desenvolvimento de um projeto.
Com o desenho à mão, é possível organizar ideias, ajudar a esclarecer um projeto e estruturá-lo, para que ele possa se desenvolver de forma mais fluida. O desenho feito à mão é o ponto de partida para a materialização de qualquer construção, além de conferir uma abordagem mais lúcida, o desenho à mão torna mais fácil fazer com que as ideias fluam aos poucos, à medida que o cérebro se concentra e se esforça para criar formas por meio de diretrizes mais flexíveis do que um programa de computador poderia fazer. O desenho é algo simples, espontâneo e confere mais liberdade ao ser traçado. É algo despretensioso e traduz exatamente o que se tenta esclarecer. É um ofício sutil, mas apurado, que faz com que o trabalho do arquiteto(a) tenha mais personalidade e se torne único. E por mais avançado que seja o programa de computador hoje em dia, muito do traço e da personalidade do profissional só podem ser realmente explorados por meio do desenho à mão. Há quem aposte que a utilização em massa de programas como Revit, ArchiCAD, Rinocerus e Vectorworks tão usuais e comuns nos escritórios de arquitetura da atualidade, façam com que a identidade se perca e todos os projetos passem a ter um mesmo fundo, uma mesma perspectiva.
Hoje em dia existem várias formas de desenvolver a habilidade do desenho. Têm cursos on-line ou presenciais, livros para quem é autodidata e tem uma forma que eu acredito ser a melhor, que é com os amigos e com um pessoal com muita experiência prática de desenho. Os “Urban Sketchers” é um grupo mundial dividido em vários países, inclusive no Brasil. Procure na sua cidade se esse grupo existe e entre em contato, é totalmente gratuito. A experiência de participar de um encontro é muito rica, pois você além de está se apropriando da sua cidade, pois os encontros são normalmente em locais públicos, você vai ter contato com várias pessoas de várias idades e que possuem diferentes técnicas de desenho. Todos dispostos a te apoiar no desenvolvimento de sua habilidade. É como se você tivesse vários professores ao mesmo tempo. Há quem acredite que esses encontros são para pessoas que já sabem desenhar. Muito pelo contrário! É um excelente local para aprender e se desenvolver com várias técnicas de desenhos e todos dando dicas que só quem tem a verdadeira prática poderá oferecer.
No final, acredito que o desenho verdadeiro, profundo, sem necessariamente ter representação com o mundo real, mas com o mundo imaginado, pode ajudar a arquitetura e o urbanismo a recuperarem a capacidade crítica que vêm perdendo e com isso também ajudar a própria sociedade a melhorar o seu modo de viver coletivamente em nossas cidades. Afinal, lembrando o que disse Paulo Mendes da Rocha, “a cidade não é fenômeno, é ação, projeto”, e assim é desenho.
Como Citar essa Matéria
MATOS, Alesson. Vamos desenhar?. Projeto Batente, Fortaleza - CE, 16 de março de 2021. Educação. Disponível em: <https://projetobatente.com.br/vamos-desenhar/>. Acesso em: [-dia, mês e ano.-]