A Cidade e o Papel do Espaço Público
Os costumes, a tradição e a vida cotidiana podem desencadear as transformações no espaço das cidades.

A compreensão da importância do espaço público como local que promove encontros, as manifestações sociais, o lazer, a mobilidade urbana e a realização deficitária destas ações comprometem a cidade como um todo, já que o espaço público é a base para o desenvolvimento e estruturação das cidades.

É possível compreender que uma cidade se comporta como um organismo vivo que se adapta às múltiplas solicitações. Ela está em constante mutação para tentar adaptar-se às realidades plurais e multifacetadas da sociedade. Ela abriga uma enorme diversidade de vozes, sentidos e imagens que contribuem para essa heterogeneidade.

Historiadores, como Leonardo Benévolo, fizeram uma análise da evolução histórica das cidades a partir “das grandes mudanças dos métodos de produção”, analisando desde o homem neolítico, há 10.000 anos, que passa a cultivar o seu alimento, passando pelo domínio do fogo, revolução industrial e os efeitos após a revolução industrial.

Com base nestes estudos, foi possível perceber que a cidade é uma materialização dos fatos históricos e de expressões culturais que consegue organizar as diversas demandas e problemáticas sociais, políticas, econômicas e ideológicas, afirma Castells (2009).  Os costumes, a tradição e a vida cotidiana podem desencadear as transformações no espaço das cidades, já que podem surgir novas demandas a partir do crescimento e desenvolvimento das cidades, decorrentes das necessidades que surgem de seus habitantes. A cidade passa a ser reflexo do crescimento urbano e dos anseios de seus personagens. A cidade é formada por uma soma infinita de marcas e símbolos que advém do passado como do presente.

As cidades contemporâneas surgem a partir dos desdobramentos da revolução industrial, que traz consigo a produção em massa, o consumo excessivo e o individualismo, reflexos da lógica capitalista.

A ideia da cidade modernista é fruto da “dinâmica lenta e constante, intrínseca à firmação da indústria e das relações de produção de tipo capitalista; em suma, a cidade é um produto social e este é determinado pelas relações sociais de produção” (INDOVINA, 2002, p. 120). As inovações tecnológicas, novas organizações de trabalho e novos estilos de vida influenciaram nas transformações das cidades, que precisaram se adaptar a esses novos anseios da sociedade, sem perder o seu papel funcional, que vem desde os primórdios, e de ser palco para as trocas sociais, ideológicas, culturais e políticas. O automóvel, como fruto da revolução industrial, teve muitos incentivos para que fosse consumido e difundido nas cidades e certamente essa inovação tecnológica impactou diretamente o meio urbano, uma vez que novas vias foram abertas e alargadas, além da criação de espaços para estacionamentos e a sua velocidade que encanta, porém inibe os encontros em meio às vias públicas.

Uma das premissas de uma cidade é garantir que existam “estruturas físicas para uma comunidade urbana” e “nas últimas décadas e por todo o mundo, o domínio público nas cidades, o espaço público entre os edifícios tem sido negligenciado e dilapidado”, afirma Rogers e Gumuchdjian (2001, p. 18). Seguindo a sua linha de raciocínio, para ele este “processo só aumentou a polarização da sociedade e criou mais pobreza e alienação” (ROGERS; GUMUCHDJIAN, 2001, p. 18) e que são necessárias novas formas de planejamento urbano que integrem as responsabilidades sociais.

(Foto: Mateus Dantas / O Povo)

Não é possível desassociar o espaço da cidade do espaço urbano, já que é nele onde ocorre um conjunto de atividades de suma importância para a vida de uma cidade, como as circulações, a delimitação do público e privado, a realização de atividades de lazer, cultural, econômica, esportiva, sociais e políticas. É através da compreensão da evolução do espaço urbano que poderemos compreender a evolução de uma sociedade.

É uma necessidade urgente a melhoria da qualidade dos espaços públicos, uma busca constante de estimular a ocupação desses locais. E o urbanismo tático, juntamente com as manifestações artísticas em meio urbano, tem a finalidade de ser um mecanismo para que os planejadores das cidades, urbanistas e gestores públicos possam fazer uso com o intuito de melhorar as cidades.

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Como Citar essa Matéria
DALL'OLLIO, Andréa. A Cidade e o Papel do Espaço Público . Projeto Batente, Fortaleza - CE, 3 de fevereiro de 2020. Arquitetura e Urbanismo. Disponível em: <https://projetobatente.com.br/a-cidade-e-o-papel-do-espaco-publico>. Acesso em: [-dia, mês e ano.-]
Andréa Dall’Ollio
Arquiteta e Urbanista
Formada em Arquitetura e Urbanismo pela UFC, em 2001 e Mestre em Ciências da Cidade pela Unifor em 2019. Desde então, trabalho em escritório próprio, desenvolvendo projetos de arquitetura e design e há 05 anos tive a coragem de me assumir como artista visual.
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Andréa Dall’Ollio

Formada em Arquitetura e Urbanismo pela UFC, em 2001 e Mestre em Ciências da Cidade pela Unifor em 2019. Desde então, trabalho em escritório próprio, desenvolvendo projetos de arquitetura e design e há 05 anos tive a coragem de me assumir como artista visual.

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