A cristalização da cidade

O capítulo “A cristalização da cidade” do livro A cidade na História: suas origens, transformações e perspectivas, de Lewis Mumford traz muitas colocações e questionamentos sobre as primeiras aparições de aldeias até o momento em que se transformam nas cidades históricas complexas que conhecemos.

A primeira colocação feita é a partir do surgimento da cidade, onde há uma introdução de um novo fator para as comunidades paleo-neolíticas dando uma nova configuração para os antigos componentes da aldeia, que são incorporados na nova unidade urbana. Com essa nova característica a composição humana se tornou mais complexa, pois além dos trabalhos primitivos – caçador, camponês e pastor – haverá a criação de outros trabalhos que irão contribuir para a expansão e fortificação da cidade, além de uma unidade superior para a organização dessa nova mistura urbana. O chefe da aldeia passa a ser considerado o rei dominante e a população, que um dia trabalhava em conjunto, são reduzidos a súditos e empregados do rei.

Após esse acontecimento pode-se perceber que a cidade vira objeto de poder, como explica Mumford (1998, p. 38) “a arcaica cultura da aldeia cedeu lugar à ‘civilização’ urbana, essa peculiar combinação de criatividade e controle, de expressão e repressão, de tensão e libertação, cuja manifestação foi a cidade histórica.”

A cidade passa a se distanciar dos seus vizinhos próximos e os elementos que a constituem são ajuntadas dentro de grandes muralhas para sua própria proteção. Porém, a arquitetura das novas cidades não é caracterizada somente com muralhas, pois se tem a criação de canais e valas de irrigação para o abastecimento da cidade e a construção de zigurates, templos, palácios e pirâmides como demonstração de poder e divindade dos seus governantes, como mostra o texto.

Mumford também explica que as cidades muradas, que são objetos de estudos, vêm de vários fatores que a própria realeza impôs através de guerras e sacrifícios, estrutura que ainda é sutilmente visível nas cidades contemporâneas.

O autor faz grandes questionamentos sobre como a estrutura da sociedade recém-construída, distribuídas em castas e a divisão do trabalho interferem no crescimento das cidades históricas, levando o leitor a acreditar que a grande fé dos súditos com o rei, com suas pretensões e alucinações paranoicas, que levaram grandes cidades como Egito e Mesopotâmia a decadência.

Lewis Mumford deixa claro que a história da arquitetura e das cidades históricas está entrelaçada com o comportamento do homem que passa de nômade para sedentário e como a necessidade desse homem e a estrutura física da cidade muda após a busca da sua afirmação espiritual.

Capa do livro “A cidade na História” de Lewis Mumford. Fonte: Google Imagens 

Referência

MUMFORD, Lewis. A cidade na história: suas origens, transformações e perspectivas – Capítulo 2: A cristalização da cidade. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

Aryane Lima
Arquiteta e Urbanista
Arquiteta e urbanista, com uma paixão especial por urbanismo e a troca de experiências. Co-fundadora do Batente, encontrou no projeto a chance de compartilhar seu conhecimento e explorar o impacto das pessoas no espaço urbano. Com uma mente curiosa e cheia de ideias, ela equilibra momentos de diálogo e silêncio em sua abordagem criativa.
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Arquiteta e urbanista, com uma paixão especial por urbanismo e a troca de experiências. Co-fundadora do Batente, encontrou no projeto a chance de compartilhar seu conhecimento e explorar o impacto das pessoas no espaço urbano. Com uma mente curiosa e cheia de ideias, ela equilibra momentos de diálogo e silêncio em sua abordagem criativa.

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