A Pandemia e a Cidade
Experiência Covid-19 além mar.

Vivendo no Porto, Portugal, há alguns meses, já podemos perceber a dinâmica das partes que compõem este país pequenino territorialmente, mas imenso em acolhimento e respeito.

Após mais de 50 dias de isolamento social, estados de calamidade e estados de emergência deliberados, Portugal iniciou a fase de desconfinamento.

Para cada estágio dos decretos governamentais anunciados, ao longo deste tempo, uma série de medidas foram adotadas para salvaguardar a saúde pública e o funcionamento da economia num contexto de calamidade pública. Foi aprovado um conjunto de diplomas legislativos com o propósito de apoiar os cidadãos e as empresas, com a proteção ao emprego, o controle de preços, apoio ao ensino, representando um esforço coletivo de contenção ao avanço da pandemia.

O comportamento exemplar da população no desempenho das medidas de distanciamento social , fruto não de obediência cega, mas de muitas conquistas sociais, assim como a aceitação e apoio político de todos os partidos, sejam da situação como da oposição, foram fundamentais para travar este combate e assim, enfim, verificar uma redução segura no número de doentes, bem como também da taxa de ocupação das unidades intensivas. Não houve necessidade de uso de sanções de natureza criminal, bem como a aplicação de multas por um possível não cumprimento das normas declaradas. Todos se uniram. Portugal virou um só. Momento que por si só, já merece um registro na história deste país e na vida de cada um que fez parte deste processo.

Av. Da Boavista, Porto, Portugal. Foto: Itatiene Garcia.

A seriedade na condução desta ação, proporcionou-nos segurança física e emocional , permitindo atravessar essas semanas com serenidade. 

A casa virou nossa cidade. Os fundamentos que a compõem, como  proteção,  produção e  recreação foram todos redimensionados para o interior dos nossos lares. E assim chegamos em uma nova etapa

Para este recomeço, a informação  fidedigna, consultando fontes oficiais como a OMS, é um instrumento importante para avançar e aceitar fundamentalmente dois pontos: que não se sabe tudo sobre o Covid-19 e não há vacina.

O desconfinamento se dará de forma gradual durante meses à frente e os efeitos das medidas na evolução da pandemia serão sistematicamente avaliados. Com regras sanitárias específicas para cada tipo de uso de comércio e serviço, cabendo ainda a todos  o dever cívico de recolhimento domiciliar. Medidas de prevenção e proteção como as da etiqueta respiratória, o distanciamento social , o uso de máscaras e luvas em ambientes fechados com múltiplas pessoas, são cuidados que deverão ser mantidos sem prazo de validade. 

Retornar sim, mas com extremo cuidado. A responsabilidade é de todos.

O entendimento que após semanas de #stayhome estaríamos aptos à sair sempre esteve presente, e que seria uma memorável comemoração a hora de dar o passo para além das nossas soleiras. Mas embora hajam todos os cuidados preventivos, ainda nos pegamos com um certo medo, o medo do outro, uma espécie de fobia social coletiva. E enquanto este medo existir, nada vai estar tudo bem. E isto é comum em qualquer lugar do mundo.

O coronavirus dá um grito de RESET. É urgente compreender que o que nos une é a nossa humanidade. Estamos atravessando um teste mundial de cidadania. 

Esta compreensão que o maior ativo da comunidade global é as pessoas, é a grande chave. 

Ter confiança no outro, acreditar que cada um assumirá um compromisso de sair de sua bolha e atravessar a porta de sua casa com total segurança, fará que alcancemos outro patamar de convivência social com uma nova apropriação das cidades, dos espaços públicos e privados. 

A consciência de pertencimento ao lugar, de interesse pelo coletivo, com as cidades inclusivas, seguras, sustentáveis, são base para sua existência plena. Como arquitetos que entendemos a cidade desta maneira, vivenciamos esta realidade neste tempo pré-covid. Deste modo, o convívio será recuperado. Sabemos que é possível. Modelos existem e é essencial que o nosso Brasil possa aprender com o melhor que há em suas matrizes.

Canga
Formado pelas arquitetas Itatiene Garcia e Juliana Atem, o Canga surgiu da vontade de realizar arquitetura de interiores em um formato diferente, em um curto período de tempo, somando experiências e habilidades dentro de um trabalho coletivo.

Canga

Formado pelas arquitetas Itatiene Garcia e Juliana Atem, o Canga surgiu da vontade de realizar arquitetura de interiores em um formato diferente, em um curto período de tempo, somando experiências e habilidades dentro de um trabalho coletivo.

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