A pandemia e os traços de Leonardo da Vinci: É possível uma cidade ideal?

A pandemia do novo coronavírus impõe diversas restrições. Essa informação já não é mais novidade, e estamos cansados de falar sobre isso. Cidades de todo o mundo tiveram que aderir ao isolamento social e, em alguns momentos, ao lockdown. E tal ação transformou a rotina de milhões de pessoas. A casa se tornou o lugar onde tudo acontece, e a cidade passou a ter novas demandas para esta nova realidade.  Nesse contexto, pessoas circulando, ocupando e compartilhando espaços públicos são imagens que não se adequam bem ao atual momento.

Diante disso, um novo cenário precisa ser traçado tendo que lidar com as consequências ocasionadas pelo distanciamento social. 

Uma cidade ideal existe?

Momentos de pandemia fazem parte da história da humanidade e trazem mudanças profundas em nossos modos de viver e socializar. Segundo a arquiteta italiana Carlotta Pinna, escritórios, praças, centros culturais e outros espaços comuns não serão mais os mesmos, pois a maneira de viver e de pensar o mundo mudou radicalmente.

Em uma palestra sobre  Smart Cities, realizada pela Casa Fiat de Cultura, Carlotta traz o exemplo de Leonardo da Vinci, que uniu arte e ciência para projetar uma cidade ideal após sobreviver a epidemias que assolaram um terço da população de Milão, na Itália, no final do século XV. 

Nessa época, a cidade de Milão tinha quase cem mil habitantes. Não havia encanamento e a água era contaminada, o que facilitou drasticamente para que a peste se espalhasse na cidade.

A forma como a peste bubônica se espalhou por Milão inspirou Leonardo da Vinci a criar conceitos renascentistas sobre a cidade do futuro, elegendo pontos norteadores: as redes de canais e a divisão vertical da cidade, de forma a unir mobilidade, sustentabilidade ambiental e áreas para o lazer. A partir dessas premissas, o artista desenhou plantas de uma cidade com sistemas de esgoto. A área urbana seria dividida em camadas e tudo que era descarte humano seria conduzido por um sistema de canais. E, o sistema de distribuição de água limpa seria através de bombeamento hidráulico similar ao que se usa atualmente.   Mais de 500 anos depois, esses conceitos continuam atuais. Nas palavras de Carlotta Pinna:

”Para ele (da Vinci), a cidade ideal seria vislumbrada como um organismo vivo, em que beleza arquitetônica e funcionalidade são combinadas com o atendimento às necessidades diárias da população.”

O projeto de da Vinci não saiu do papel e, de lá pra cá, muitas cidades passaram por processos de mudanças e novos conceitos e cenários surgiram. E, tratar da cidade em sua funcionalidade essencial se faz cada vez mais urgente. Cidade inteligente e Cidade criativa são termos muito pautados atualmente quando se fala em cidades sob a perspectiva da inovação, tendo a cultura como um ponto norteador. No entanto, como torná-la realidade nas periferias de cidades em países como o Brasil?

É necessário pensar nas distintas realidades, pois nem todo mundo tem estrutura para o trabalho home office, espaço, equipamentos, internet, etc. A pandemia potencializou a percepção da desigualdade e mostrou a alarmante realidade de ainda ser necessário trazer o básico para a cidade, como a questão da água e do saneamento.

Nesse contexto, medidas paliativas e recursos criativos são utilizados para diminuir o impacto da desigualdade social. A criatividade, nesse sentido, torna-se estratégia para o desenvolvimento urbano. E não é de agora que tal recurso é percebido como potencial para gerar mudanças sociais.

Articular saberes criativos culturais para criar uma cidade ideal, é possível? É uma das questões que podemos buscar respostas ao pensar nas inúmeras esferas criativas que envolvem a cidade como um organismo vivo. As pessoas devem se apropriar da cidade junto a uma administração pública que tenha estratégias e espaços democráticos. A cultura, em uma cidade criativa, é vista como um elemento essencial para o seu desenvolvimento. Qual o lugar que a cultura ocupa em nossa cidade?  

Como Citar essa Matéria
FARIAS, Wilma. A pandemia e os traços de Leonardo da Vinci: É possível uma cidade ideal?. Projeto Batente, Fortaleza - CE, 26 de fevereiro de 2021. Urbanismo. Disponível em: <https://projetobatente.com.br/a-pandemia-e-os-tracos-de-leonardo-da-vinci-e-possivel-uma-cidade-ideal>. Acesso em: [-dia, mês e ano.-]
Wilma Farias (uiu)
Pesquisadora, Produtora cultural e Artista-bordadeira.
Graduada em Design de Moda e Mestra em Artes.
Realizo pesquisas e experiências criativas para partilhar saberes. Produzo, desde 2011, projetos de formação e práticas criativas em arte e design, tendo experiência com cursos, oficinas e acompanhamento de processos de criação para instituições culturais, grupos de pesquisadores e estudantes. Pesquiso sobre a obra do artista Leonilson e as relações entre escrita, invenção, arte e vida. Com um perfil multidisciplinar, tenho experiências em organização de eventos acadêmico nacional e internacional na área de design e arte, escrita e publicação de artigos em livros e revista, além de experimentações artísticas e produção na área das artes visuais.
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Wilma Farias (uiu)

Graduada em Design de Moda e Mestra em Artes. Realizo pesquisas e experiências criativas para partilhar saberes. Produzo, desde 2011, projetos de formação e práticas criativas em arte e design, tendo experiência com cursos, oficinas e acompanhamento de processos de criação para instituições culturais, grupos de pesquisadores e estudantes. Pesquiso sobre a obra do artista Leonilson e as relações entre escrita, invenção, arte e vida. Com um perfil multidisciplinar, tenho experiências em organização de eventos acadêmico nacional e internacional na área de design e arte, escrita e publicação de artigos em livros e revista, além de experimentações artísticas e produção na área das artes visuais.

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