Arquitetura Tik Tok
Numa simplificação imperdoável, poderíamos comprimir a história da arquitetura em dois momentos: Um clássico e outro barroco. Indefinidamente, era após era, num looping eterno, os dois comportamentos vão se sucedendo e se alternando, sempre, sempre, sempre… Entendamos o clássico como uma arquitetura normativa, mais racional, com regras, com alguns gatilhos de contenção. Já o barroco, como signo da apropriação sensorial, da liberdade, da exacerbação…
Começando com o próprio classicismo, com suas proporções áureas, sua geometria, sua matemática. Havia uma norma e um bom arquiteto renascentista seguia regras. Não significa que seguir regras o transforma instantaneamente em um bom arquiteto. Há bons e maus arquitetos com ou sem regras. O clássico lhe dá liberdade de criação, no entanto, dentro de um “cercadinho”. As mais belas obras de arquitetura da Renascença saíram de dentro de “cercadinhos”. Basta citar Da Vinci. A arquitetura moderna era também clássica, porque era também normativa. Havia o que era permitido e o que não era. Havia o pecado e havia a virtude. Do outro lado, houve o próprio barroco, o maneirismo e o orgiástico pós-moderno.
Simplificando ainda mais, para desespero dos historiadores da arquitetura e dos que sabem de fato do que estão falando (não é meu caso), há sempre uma arquitetura que fala baixo e outra que fala alto. As que falam baixo, de tão baixo, às vezes emudecem e as que falam alto gritam tanto que às vezes é preciso pô-las num hospício. Acho que vivemos agora um período mais fragmentado. Tem de tudo. Não experimentaremos mais momentos em que todos caminham numa só direção. Isso acabou. Presenciamos arquiteturas de gritos, mas também de sussurros, tudo misturado.
Há, no entanto, um dado novo: Os amplificadores digitais. Essas engenhocas favorecem a gritaria e a turma que fala alto esta se esgoelando o quanto pode. As arquiteturas que falam baixinho se encolhem e põem as mãos no ouvido. Percebo ainda, em meio à gritaria, uma nova categoria preocupante: A arquitetura Tik Tok. São arquiteturas que querem fazer dancinhas, se mexer , que não querem olhos ou pessoas paradas. Tudo é cinético. Elas têm um aliado poderoso: As fitas de led. As fitas de led sublinham as formas já extravagantes, duplicando o exagero. Nem no escuro se comportam. Parece uma cena de Star Wars onde Jedis em pirueta manobram sabres de luz num carrossel alucinado.
Calma, gente. Menos, menos…Psiiiiiiiu…Falem mais baixo. Tem gente querendo descansar.
