Carnavalizar nas ruas também é festejar a nossa cidade
Dizem os brasileiros, que a rotina só começa oficialmente após o carnaval. Não sei se é verdade ou lenda urbana, o importante é perceber os movimentos realizados em uma das maiores festas populares do Brasil. A data celebrada em todo o mundo, manifesta principalmente a cultura de um povo, suas crenças e tradições.
A festa que transita entre o sagrado e o profano, originou-se na antiguidade para celebrar os deuses pagãos e a natureza. Após alguns séculos, foi reconhecida pela igreja e incluída no calendário cristão como os dias que antecedem ao início da quaresma.
O carnaval chegou por nossas terras durante o período colonial. No Brasil teve influência do entrudo, uma festa de rua portuguesa que consistia em jogar farinha, ovo e tinta nas pessoas. No entanto, passou por adaptações por conta das influências indígena e africana. Essas diferentes influências culturais constituíram modos diferentes de celebrar o carnaval em cada ponto do país.
A comemoração do carnaval faz pulsar diversas linhas referenciais que desenham uma parte de nossa cultura e potencialidade criativa, seja através dos trios elétricos que marcam o axé em Salvador e os blocos com manifestações afro; ou seja pelas ladeiras movimentadas de Olinda com bonecos gigantes e batidas de frevo ou maracatu. Há, também, dentre os mais conhecidos, os desfiles das escolas de samba nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, além dos blocos de rua que reúnem multidões.
É difícil traçar uma narrativa que explique confetes, serpentinas, fantasias, blocos, cordões, bailes, desfiles e carros alegóricos. O que é fácil de observar é a força do carnaval de juntar diversas pessoas em múltiplos espaços. É fácil também afirmar o seu poder de ocupar as ruas.
A palavra rua, de acordo com alguns dicionários, significa um caminho público de casas ou muros, nas povoações (cidades, vilas etc.). A rua é para ser apreendida, disse João do Rio que “a rua é um fator da vida das cidades, a rua tem alma”. A rua é um espaço de vivência comum, onde existe partilha.
Em Fortaleza, em especial, há um movimento que vem se desenhando para carnavalizar nas ruas. A cidade que antes era conhecida como um lugar para descansar ou escapar da folia, tem se tornado um espaço de profusão de festejos com diversos blocos que ocupam as ruas. Além disso, é bom lembrar da resistência dos desfiles de maracatu que marcam o carnaval alencarino desde a década de 1930.
A rua e o carnaval são pontos de criação do comum e da alegria para partilhar um sensível que se dá pelos nossos modos singulares e imaginários de existência. Festejar o carnaval é celebrar as ruas da nossa cidade. É festejar nossos espaços de vivência comum. Ocupe. Resista. Festeje!