Curadoria
O ato de curar é apenas uma sequência de procedimentos que envolvem a concepção, o pensamento crítico, a organização e a montagem de uma exposição? Ou exerce influências sobre o que está sendo exposto, produzindo relações de valores?
Adotando o conceito de GONRING, 2015, curadoria é:
“(…) um conjunto de práticas por meio das quais a obra se realiza publicamente. nesse sentido, trata-se de uma atividade particularmente ligada à dimensão de presença da linguagem, na qual o embate direto com o real é preponderante à atuação puramente simbólica”.
(Gonring, 2015).
A partir do entendimento dos trabalhos dos curadores Pontus Hultén e Harald Szeemann, que transformaram a maneira de fazer a curadoria, é possível ter uma compreensão maior das nuances de uma curadoria, através da explicitação de princípios ordenadores.
Pontus Hultén foi o primeiro diretor do Centro Georges Pompidou, um complexo cultural projetado pelos arquitetos Renzo Piano e Richard Rogers e que abriga exposições de arte contemporânea cuja premissa é o foco nas exposições e não nos artistas tampouco nas obras de arte. E, segundo Moderna Museet sobre Pontus Hultén, tendo o “interesse pelas exposições como meio, e pelos curadores como agentes criativos, tem impactado as atividades de curadores e artistas de hoje e os estudos de história da arte.”
Harald Szeemann rompeu com a ideia de que os curadores eram apenas cuidadores das obras de arte e um gestor para expô-las. O seu pensamento crítico acerca do seu exercício profissional gerou um grande impacto no meio artístico, seja entre os artistas, o público apreciador, os colecionadores, comerciantes de arte, enfim no sistema em geral.
Ele iniciou uma cisma, que perdura até hoje, entre a esfera do mundo da arte que é dominada por marchands e colecionadores e aquela que é administrada por instituições de arte contemporânea. O dinheiro privado alimenta o primeiro, o dinheiro público e o filantrópico o segundo. (SCHJELDAH, 2019)
Estes dois tiveram o papel de expandir as possibilidades de atuação dos curadores, seja ampliando as possibilidades de formar linguagens expostas nas instituições de arte, assim como aumentando as possibilidades de espaços expositivos, possibilitando a compreensão de que a curadoria é, sim, uma prática multidisciplinar, permitindo absorver outras formas de expressão artística, adequando-se às artes conceituais, às performances, à arte efêmera dentre outras e ampliando o engajamento do público com a exposição.
Júlia Baker, 2015, afirma que o curador chegou a um patamar de extrema importância em diversas áreas, como as artes plástica, moda, gastronomia, cinema, teatro, música, dentre outros. Segundo ela:
Isso porque o curador ajuda a dar significado à obra e se torna um facilitador do grande público para esse mundo que nem sempre permite um fácil acesso e compreensão, sendo um dos principais sujeitos na criação de significado para um grupo de elementos reunidos. (BAKER, 2015)
O ato de curar parte da premissa da escolha, e por vezes surge o pensamento que esse profissional precisa apenas saber fazer essa seleção e apresentá-las de uma forma ideal. O que é extremamente superficial, já que o processo de curadoria envolve no mínimo um pensamento crítico acerca do que se deseja mostrar e instigar.
Certamente, as transformações nas produções artísticas influenciam diretamente nas produções curatoriais. Como também as novas formas de se comunicar, que rompem territórios fazendo surgir novas linguagens, novas propostas expositivas a partir das mídias digitais.
A possibilidade de expor conteúdos, imagens e sem que as barreiras físicas sejam limitadoras, tendo um retorno rápido da aceitação do público através das mídias sócias, é extremamente atrativo aos produtores de matérias. Muito conteúdo é disponibilizado e a curadoria assume o papel de gerir essas ideias.
A curadoria é um meio de criar elementos para a compreensão do trabalho a ser apresentado, para que a fruição ocorra segundo as intenções do que foi exposto, onde o curador atua como articulador desse processo de materialização.
Referências
GONRING, G. M. (O que) pode a curadoria inventar? Galaxia (São Paulo, Online), n. 29, p. 276-288
MODERNA MUSEET. Pontus Hultén e Moderna Museet. 2016. Disponível em: https://www.modernamuseet.se/stockholm/en/the-collection/research/pontus-hulten-moderna-museet/. Acesso em: 17 ago. 2020.
SEABRA, Jessica. NOTAS SOBRE TENDÊNCIAS DA CURADORIA CONTEMPORÂNEA DENTRO DO MODELO BIENAL. 2016. Disponível em: http://anpap.org.br/anais/2016/comites/cc/jessica_seabra.pdf. Acesso em: 16 ago. 2020.
Como Citar essa Matéria
DALL'ÓLIO, Andréa. Curadoria. Projeto Batente, Fortaleza - CE, 11 de janeiro de 2021. Arte e Design. Disponível em: <https://projetobatente.com.br/curadoria/>. Acesso em: [-dia, mês e ano.-]