E por falar em saudade…
Hoje, não vamos falar sobre arquitetura, não traremos dos caminhos e perspectivas da ATHIS, tampouco abordaremos de forma crítica a práxis do planejamento urbano. Hoje resolvemos falar de saudade. Esse vocábulo que traduz um dos sentimentos mais belos dos seres humanos, e que praticamente só existe aqui, nesse pedaço de chão castigado.
Saudade, esse sentimento tipicamente português e, que nós brasileiros aprendemos a sentir de um jeito próprio. Fernando Pessoa certa vez escreveu: “Estou só e sonho saudade”. O verso, entre tantos já feitos sobre o sentimento, revela muito dos tempos de agora, uma saudade sem esperança, uma saudade que brota da tristeza. Mas essa é uma saudade portuguesa. Sentimento moldado pela condição de ausência da terra e dos amores portugueses, alicerces das navegações de expansão de Portugal. A saudade Portuguesa é uma saudade sentida na tristeza e vivida pela ausência. A saudade no Brasil é diferente, é cozida na alegria e na esperança. Talvez por isso esteja tão ligada não só ao passado, mas também ao futuro.
François Laplantine diz que “saudade é um sentimento mestiço que significa sofrer do prazer passado e, ao mesmo tempo, ter prazer no sofrimento de hoje”. A saudade no Brasil tem um quê de resistência. A resistência diante a dureza da vida está na possibilidade de existir na festa e de ser na sua saudade (ah o Carnaval).
Chegamos em um ponto de contradição nesse ensaio, se a saudade está ligada ao passado e ao futuro ela é também memória e sonho. A saudade se apresenta então em uma perspectiva que a considera eminentemente um objeto social, que nos une enquanto coletividade, já que todos temos nossas histórias de saudade. E nesse sentido tem uma relação direta com a arquitetura, com as práticas de ATHIS e com a forma de planejar as cidades.
Essas práticas nos falam da história, nos mostram pedaços de um imenso palimpsesto chamado cidade. Conservamos a memória de espaços, edifícios e planos, porque sabemos da importância da saudade. A saudade resgata e recria memórias e abre possibilidades de futuros, através da subversiva alegria do sonho. A festa se dá não pela facilidade da vida, mas pela necessidade criada por seu inverso. Logo, parafraseando Luiz Gonzaga: saudade, o meu remédio é cantar!