Pela casa se conhece o dono Existem mais necessidades em uma casa?
O título da minha coluna é uma apropriação do título de um livro que apresenta, de uma forma breve e lúdica, onze projetos de habitações, um descortinar da arquitetura e dos moradores. E, que neste momento de isolamento social, me proporcionam vários capítulos de reflexão e novas percepções para o espaço que habito, a partir de uma convivência mais íntima com a minha própria residência, o que acaba por tornar-se um processo de autoconhecimento e de redescoberta de quão grande é o papel do arquiteto que, com o exercício do seu ofício, busca harmonizar as necessidades e anseios do homem com o espaço construído.
Para suprir as necessidades dos moradores, faz-se necessário equalizar o que é primordial para que o projeto cumpra o seu papel. Algumas etapas básicas devem ser cumpridas pelo arquiteto, como ouvir o seu cliente e desenvolver o programa de necessidades adequado, compreender todo o contexto onde a habitação está inserida, cumprir as funções adequadamente respeitando as medidas e necessidades espaciais, como o repouso, higiene, alimentação, encontros, dentre outros. Proporcionar qualidade acústica, térmica, visual, interna e externamente. Possibilitar que existam espaços de convivência coletiva, semicoletiva e íntima. E logicamente, respeitando as legislações vigentes.
Existem mais necessidades em uma casa? Os modernistas, com a sua visão maquinista, afirmaram que a casa é uma máquina de morar. Algumas observações sobre as casas modernistas que o autor do livro Pela Casa se Conhece o Dono, Didier Cornille, 2014, acrescentam funções subjetivas nessa máquina, como: […] uma casa iluminada e sem paredes; […] ficam no primeiro andar, para usufruir a vista; […] um cômodo amplo, todo banhado de luz; […] possui telhado enorme que forma muita sombra e proporciona frescor. […] circundada por grandes varandas que permitem apreciar a vista de todos os lados. […] O interior da casa lembra uma gruta adaptada. […] Onde a gente se sente bem. […] Por dentro, encontramos um mundo maravilhoso, cheio de plantas e objetos trazidos do mundo inteiro. […] Mas é possível, também, fechar as cortinas para criar isolamento.
Sensações de privacidade, de proteção, quantidade de luz que entra, aberturas externas, visuais, o contexto, ventilação, sombreamento, aquecimento, estética, identificação, memórias, conquistas, saudades, encontros, desencontros, sons externos e muito mais qualidades intrínsecas estão presentes nessas moradias.
E quais as suas percepções sobre a sua casa? Ela lhe representa?
O poema de Lena Gino representa a sensação que eu tenho com a moradia que eu habito.
[…]
Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente.
Arrume a sua casa todos os dias…
Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela…
E reconhecer nela o seu lugar.Lena Gino