Percursos Fotográficos A intenção, o ato do registro e os caminhos percorridos
Para o autor Boris Kossoy, autor do livro Fotografia e História, toda fotografia tem sua origem a partir do desejo de um indivíduo que se viu motivado a congelar em imagem um aspecto dado do real, em determinado lugar e época. Onde o homem, o tema e a técnica específica (esta, por mais avançada que seja) são em essência os componentes fundamentais de todos os processos destinados à produção de imagens de qualquer espécie.
Com isso, esse produto final, a fotografia, é resultante da ação do homem, o fotógrafo, profissional ou não; E em determinado espaço e tempo optou por um assunto em especial e que, para seu devido registro, empregou os recursos oferecido pela tecnologia.
Na arquitetura, por exemplo, as documentações transcendem a técnica, as linhas paralelas, os desenhos em nanquim e a escala. A multiplicação de documentos, especialmente a fotografia, evidenciou a necessidade de se estudar o significado e o conteúdo cultural desses registros. Um estudo crítico e reflexivo sobre as fotografias deve se preocupar em situar os interesses que direcionaram a produção, circulação e recepção destas imagens e em desvendar o significado que emerge da narrativa visual.
O ato do registro, ou o processo que deu origem a uma representação fotográfica, tem seu desenrolar em um momento histórico específico (caracterizado por um determinado contexto econômico, social, político, religioso, estético, etc.).
A fotografia original, conhecida pelos teóricos como objeto-imagem de primeira geração é essencialmente um objeto museológico, e como tal tem sua importância específica para a história da técnica fotográfica, além de seu valor histórico intrínseco, enquanto o de segunda geração, reproduzida sob os mais diferentes meios, é, em função da multiplicação do conteúdo (particularmente quando publicado), fundamentalmente um instrumento de disseminação da informação histórico-cultural.
Toda fotografia representa em seu conteúdo uma interrupção do tempo e, portanto, da vida.
Boris Kossoy
Portanto, olhar para uma fotografia do passado e refletir sobre seus tempos e a trajetória por ela percorrida é situá-la em pelo menos três estágios bem definidos que marcaram sua existência. Em primeiro lugar houve uma intenção pra que ela existisse, a partir disso teve lugar o segundo estágio: o ato do registro e por fim, o terceiro estágio: os caminhos percorridos por esta fotografia. Quais olhos viram? Quais porta-retratos emolduraram? Quais álbuns a guardaram?
Estas inquietações nos fazem perceber que a fotografia é uma das principais fontes históricas se a tomarmos como um fragmento de realidade, um aspecto do passado, em que a decisão de registro e fixação de um determinado dado foi uma opção do autor. Permitir conhecer aspectos simbólicos da memória coletiva e trazer expressões vividas em outros tempos, nos permite ir muito além de meras descrições e mergulhar na essência de uma sociedade, trazendo respostas para o hoje e também para o amanhã.