Poço da Draga, entre olhares e Percursos
A participação popular como chave dos progressos citadinos.

Em julho de 2019, em Fortaleza-CE, eu dava início a uma jornada pessoal e acadêmica em busca de respostas para um tema tão importante e urgente na nossa sociedade, a participação popular, para este caso na escala do urbanismo. Pensando em qual lugar deveria ser essa fonte de pesquisa, me veio à cabeça logo a comunidade do Poço da Draga, que praticamente dispensa apresentações para estudantes de arquitetura e urbanismo de Fortaleza-CE. Notoriamente o Poço da Draga, é palco para grandes conversas e diálogos sobre diversos assuntos relacionados à prática do urbanismo, por ser uma comunidade histórica com mais de 100 anos de convivência, uma comunidade singular, não periférica, bastante centralizada, rodeada por equipamentos culturais e localizada em uma área da cidade de grande valor econômico e cultural, pois trata-se de uma região com grande potencial turístico, próximo a orla de Fortaleza, pertencente ao bairro Centro bem na divisa com Praia de Iracema.

No decorrer do processo de inserção e de diálogos com moradores da comunidade sobre qual caminho como arquiteto e observador eu deveria tomar, pude observar o entusiasmo dos moradores comprometidos na mudança da comunidade, mesmo que tão pontual por se tratar de um trabalho de conclusão de curso. Juntamente aos moradores, desenvolvemos uma lista de perguntas que os direcionariam a desenhos em um mapa (anexo) individual para espacializar tais respostas, algo parecido como uma cartografia social. Este trabalho deu origem a diversos mapas que nos deram base para que assim pudéssemos ser direcionados aos valores, desejos, anseios, problemas e às possíveis soluções que uma coletividade buscava para a situação atual em que permaneciam. Naquela mesma época, acontecia o PIRF (Plano Integral de Regularização Fundiária) que estava em suas primeiras reuniões, na qual pude participar de algumas e me atentar ainda mais às diversas situações que a comunidade passava, diga-se de passagem.

Dito isto, este presente artigo faz uma abordagem sobretudo acima de uma das questões de abordagem utilizada, no qual foi produzido um desenho individual onde cada morador entrevistado delimitava por linhas, símbolos ou polígonos sobre uma imagem via satélite da comunidade. Trabalha próximo onde mora ou se desloca bastante para chegar ao trabalho? Esta pergunta tinha como objetivo entender a lógica de fluxos diários, os próprios percursos internos na comunidade e, portanto, entender a vitalidade e permanência de uma comunidade histórica. Foram entrevistados no total 10 moradores, para um total de 10 perguntas, sendo 5 delas direcionando-as a elaborar um mapa de desenho cartográfico, como dito anteriormente.

Como mostra os mapas anexados neste artigo, os desenhos são simples, diretos e pontuais, os entrevistados marcavam um círculo onde moravam e seguiam com uma linha até onde trabalhavam. Alguns dos entrevistados não trabalhavam no momento ou trabalhavam na própria residência, como por exemplo um pequeno comércio ou serviços que ofereciam, então haverá casos onde os mapas terão somente um círculo onde moram. Já outros, temos uma linha seguindo por becos e vielas estreitas internas da comunidade, nos levando aos locais de trabalho dos moradores, em todos os casos os trabalhos ficavam próximos de onde habitavam.

O mais interessante é a gente poder analisar essa trajetória pela ótica do morador, pelo seu itinerário, seu percurso que o leva a diversos passeios e caminhadas, direcionando-os seja pelo percurso mais curto ou por um que eles possam observar a orla que abraça a sua comunidade, que possam passar pelo comércio da rua principal, e assim por diante.

Essa interpretação nos leva a um ponto importante sobre o reconhecimento de permanência de um lugar que sempre passou por desafios durante a sua história, o quão importante devemos preservar esses lugares ricos de memória e principalmente de vidas, essas que nos levam a entender todo um complexo de discussões acerca da qualidade de relações sociais de um ambiente muitas vezes vulnerável pela visão de alguns setores da sociedade, mas potencialmente cercada de grandes histórias e conquistas.

O intuito dos processos participativos está focado na introdução de uma educação urbana e humana para essas pessoas, fomentando o conhecimento de suas próprias áreas e a garantia do poder de decisão beneficiando a todos. Trata-se de valores comunitários, conhecimento compartilhado em pró do desenvolvimento urbano, uma gama de aspectos que mesmo visto como elementos básicos e de direitos humanos, muitas vezes são esquecidos ou deixados de lado em algum momento.

A inserção dessas pessoas nos conhecimentos citadinos, sobretudo no que diz respeito a suas áreas e o que vier a impacta-las é de fundamental importância. É a participação delas que nos garante, que usufruem do espaço, a nos mostrar novas maneiras e visões para o entendimento dessa rede cheia de complexos elementos que devem ser incorporados para um resultado digno e de interesses coletivos. É preciso entender a necessidade dessas pessoas a partir do olhar das mesmas, pois, só é possível se aprofundar nos valores, desejos e anseios de uma comunidade quando as ouvirmos.

Como Citar essa Matéria
MENESES, Cadu. Poço da Draga, entre olhares e Percursos . Projeto Batente, Fortaleza - CE, 19 de abril de 2021. Urbanismo. Disponível em: <https://projetobatente.com.br/poco-da-draga-entre-olhares-e-percursos>. Acesso em: [-dia, mês e ano.-]
Cadu Meneses
Arquiteto e Urbanista
Arquiteto e Urbanista formado pelo Centro Universitário 7 de Setembro (UNI7) desde 2019. Tem interesse no campo do urbanismo e paisagismo, onde vê em ambos, chaves para grandes mudanças que tenham impacto no meio social e ambiental.
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Cadu Meneses

Arquiteto e Urbanista formado pelo Centro Universitário 7 de Setembro (UNI7) desde 2019. Tem interesse no campo do urbanismo e paisagismo, onde vê em ambos, chaves para grandes mudanças que tenham impacto no meio social e ambiental.

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