Só se reconhece, se conhecer…
Eu sou de uma terra que o povo padece
Mas nunca esmorece,
procura vencê,
Da terra adorada, que a bela cabôca
Com riso na bôca zomba no sofrê.
Não nego meu sangue, não nego meu nome,
Olho para fome e pergunto: o que há?
Eu sou brasilêro fio do Nordeste,
Sou cabra da peste, sou do Ceará.
Patativa do Assaré
As palavras de Patativa são diretas e duras, porém extremamente honestas. Não só o conteúdo, mas a forma que é escrita mostra um homem que não tem medo de dar a cara à tapa, e o que importa é passar a mensagem que ele precisa passar, não importando mais nada. O conteúdo da poesia é uma reafirmação das características da pessoa que o escreve, do povo a quem ele representa e de quem ele tem tanto orgulho.
A força e coragem do povo da nossa região são indiscutíveis! Povo batalhador construtor de cidades, construtor de vidas e laços que vão além das fronteiras nacionais. Ou você nunca escutou a frase que tem um cearense em todo lugar do mundo?! É este povo que “padece, mas nunca esmorece e procura vencê” que o grande poeta Patativa do Assaré se referia.
Porém, para um povo que busca suas significâncias, é necessário ter seus valores muito bem definidos na educação e na cultura. Com já dizia o nosso patrono, Paulo Freire, a educação nos traz autonomia e liberdade de podermos ser o que acreditamos querer ser. Desta forma, pode-se criar uma cultura com personalidade e originalidade à este ser que está em formação. E de acordo com Tylor, e apresentado por Carrieri e Leite da Silva, a cultura é um conjunto completo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes e qualquer outra capacidade e hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade. A cultura envolve significado! Logo, nossa cultura deve ser exaltada com orgulho devido à sua riqueza.
Como dito anteriormente, a relação entre a educação e as manifestações culturais fica cada vez mais clara. A escola, muitas vezes, incorpora como tradição práticas culturais, no seu dia a dia, nem sempre com finalidades pedagógicas muito claras. São comemoradas no seu calendário hasteamento da bandeira, festas de carnaval, Páscoa, festas juninas, dia das mães, dos pais, juntamente com comemorações cívicas e celebrações religiosas. Por outro lado, é evidente a interferência que o conhecimento adquirido na escola produz na cultura. É comum, hoje em dia, encontrar crianças condenando o uso do cigarro, o desperdício da água e trazendo para a família hábitos de higiene aprendidos na escola.
A educação e a cultura são processos complementares embora, muitas vezes, apresentem-se como contrários e até mesmo como contraditórios. Os usos culturais do balão, das queimadas, dos alimentos gordurosos, dos discursos preconceituosos, das disputas entre animais como jogo que envolve dinheiro são combatidos pela educação que, gradativamente, vai modificando os costumes.
Admitindo-se ter a cultura uma função pedagógica como um agente de educação não formal, conclui-se que ela não pode estar alheia e descompromissada com esse processo. É necessário que o cearense conheça a sua história, saiba de onde ela veio. Se identifique com a sua cidade e região. Valorize-a! Temos grandes exemplos de notáveis conterrâneos cearenses que levaram ao Brasil os valores de nossa terra, como: os escritores José de Alencar e Rachel de Queiroz, os poetas Patativa do Assaré e Bráulio Bessa, os humoristas Chico Anysio, Renato Aragão e Tom Cavalcante, os músicos Fagner, Ednardo e Belchior, e tantos outros que falam e cantam os valores de nossa terra.
Para que haja reconhecimento de algo é necessário, primeiramente, conhecer o mesmo. Precisamos mostrar o que temos, nossa história, nossa arquitetura e nossa cultura. Só assim o mundo lá fora, verá uma produção verdadeiramente original, pois será totalmente diferente de tudo que já foi visto. Óbvio, será algo único, pois traz conceitos de um lugar diferente dos deles. Exaltará, respeitosamente, àqueles que trabalharam e produziram antes de você. Pois você estará bebendo da fonte que eles deixaram. Nada se parte do nada! Então, em vez de se referenciar de algo que não te diz nada, que não tem a ver com a sua verdade, seu lugar, sua história e sua cultura, por que não se conceituar em cima do que o mundo não conhece? Que é o seu lugar! Sua história! Sua verdade! Sua produção será honesta!
Isto é um método! E comprovado! No livro “Carradas de razões” de Lúcio Costa, ele conta a história de como a arquitetura moderna brasileira foi criada. Ele não apenas olhou para fora, mas, principalmente, para dentro, para a arquitetura colonial brasileira, que ele julgava ser uma produção genuinamente nossa. E misturou! (típico do Brasil) Criando algo que até hoje as escolas de arquitetura do mundo todo chamam de arquitetura moderna brasileira. O engraçado que se você for ver na definição, é, na verdade, um estilo não puro, pois houve a mistura de dois estilos, o moderno e o colonial. Por definição, seria mais correto ser chamado de arquitetura eclética. (E tem tudo a ver com o Brasil, a mistura!) Lúcio Costa tinha um profundo conhecimento sobre a história e cultura do nosso país para saber, com maestria, trabalhar com os elementos da arquitetura colonial brasileira junto da arquitetura moderna internacional de Le Corbusier.
Disto, saiu o maior movimento arquitetônico do nosso país. Você pode até não gostar da arquitetura moderna brasileira, mas é indiscutível o barulho que ela fez no mundo. Para isso, Lúcio Costa mostrou para o mundo algo que eles nunca tinham visto, claro, tendo influências de fora, mas, principalmente, ele olhou para dentro.
Então… fazendo uma analogia a isto, seria nunca deixar de ver o que o resto do Brasil, ou o mundo, produz, para você se referenciar, mas o que vai dar o “pulo do gato” será este conhecimento de nossa história e nossa cultura refletindo na sua arquitetura e mostrando para o Brasil e o mundo algo que eles nunca viram. Claro, que tudo isto é uma evolução, um processo, da mesma forma que a arquitetura moderna brasileira foi. Não é uma receita mágica, requer trabalho e pesquisa, no qual te levará por um caminho de produção honesta de arquitetura que refletirá a sua terra.
E este será o valor da arquitetura do Ceará, poder olhar para o outro e sentir orgulho de um povo que é forte, corajoso e que valoriza suas origens, sua cultura e sua cidade, pois é conhecendo nosso passado e nossa história que teremos um futuro brilhante em plena a terra da luz.