Uma leitura para todos!
Livros que não apenas arquitetos e urbanistas deveriam ler.

Tem-se essa ideia de que os livros que tratam de problemas sociais e a temática de espaço precisam ter esse tema explícito, engano nosso!

Aqui estão 4 dicas de leitura que trazem essa questão de uma maneira sensível, forte e necessária. Assuntos desde a falta de políticas públicas até a importância do nosso quarto no meio de tantos acontecimentos externos. O espaço onde vivemos tem interferência direta no nosso cotidiano e esses livros mesmo escritos há muito tempo, continuam trazendo debates e reflexões atuais. 

Quarto de Despejo – Diário de uma favelada

Carolina Maria de Jesus

Livro Quarto de Despejo: Arquivo pessoal

Esse é um livro que vai te arrebatar, ele é um diário de uma mulher, negra, mãe solo, catadora de papel e moradora de uma favela de São Paulo nos anos 50 que escrevia em meios a tantos acontecimentos no seu dia a dia.

Ela conta a sua relação com os vizinhos na favela, amizade, a difícil criação dos filhos, o trabalho nas ruas, a luta diária contra a fome, violência, a falta de saneamento básico, enchentes e o descaso do poder público com o 

lugar onde ela vive, onde ela titula como “quarto de despejo”. 

“Quando estou na cidade tenho a impressão que estou na sala de visita… E quando estou na favela tenho a impressão que sou um objeto fora de uso, digno de estar num quarto de despejo.”

A escrita é crua e objetiva com grande parte dos erros ortográficos mantidos pela autora, isso dá ao leitor uma imersão na realidade vivida.

Mais tarde, esses registros deram origem a esse livro, publicado há 60 anos, um retrato cruel e fiel do Brasil de ontem e infelizmente de hoje.

Quarto de despejo não é apenas um diário de uma mulher em frente as diversidades da vida marginalizada, mas sim o retrato pintado à mão do nosso Brasil. 

Em meio a isso, Carolina nos presenteia com poesia, sonho, amor, cuidado de uma mãe, resistência e ato político.  A voz que tantas vezes é silenciada, ressoa! 

O cortiço

Aluísio Azevedo

Livro O Cortiço Fonte: Arquivo pessoal

Sabe aquele livro clássico que lemos na época da escola e achamos que é apenas um livro? Pois é, não é o caso de O Cortiço. 

Esse livro além de ser um clássico brasileiro, ele vem escancarando assuntos necessários e ainda atuais, como pobreza, moradia inadequada, corrupção e a imposição de pessoas que enriquecem em cima de pessoas pobres. 

O foco é um cortiço no Rio de Janeiro e como 

esse lugar interfere na vida dos moradores e o autor trás diversos acontecimentos que fazem ligação com a urbanização da cidade na época.  

Ele passa por temas como o cotidiano, injustiça social, preconceitos à classe social e racial. Assuntos tabus no período como prostituição, assédios e alcoolismo também são abordados.

Trata-se, por fim, de um livro sobre o coletivo, sobre vidas e destinos que se cruzam num só lugar. 

“E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a minhocar, a esfervilhar, a crescer, um mundo, uma coisa viva, uma geração que se parecia brotar espontânea, ali mesmo daquele lameiro, e multiplicar-se como larvas no estuco…”

Becos da Memória

Conceição Evaristo

Livro Becos da Memória Fonte: Arquivo pessoal

História, memória, questões raciais e cidade são temas que se sobrepõem nesse livro. Ao mesmo tempo é cru, é comovente, é revoltante e belo de se ler. 

Ele aborda nada menos que as consequências desastrosas do processo escravagista no Brasil, mostra como isso tem interferência nos personagens que entre os movimentos de resistência e força, sofrem muito com a segregação e são cientes de sua localização social. 

Essa luta é contada no final dos anos 1960, onde moradores de uma favela em Belo Horizonte estão prestes a deixar a favela por força de especulação imobiliária. Conseguimos sentir o doloroso processo de desfavelamento que é narrado por muitas vezes pela jovem Maria-Nova, ela relata como cada pessoa é afetada com o despejo. 

É retratado, ainda, o fantasma casa grande/senzala que ainda insiste em pairar a sociedade. 

Becos da Memória é, em si, uma leitura de privilégios.

Quando o romance vira dor e culpa, a literatura cumpre um de seus grandes papeis. Mas dessa vez, não tem magia ou futuros distópicos, o que existe é apenas uma realidade invisível à maioria das pessoas. 

“Como éramos pobres! Miseráveis talvez! Como a vida acontecia simples e como tudo era e é complicado!…”

As meninas do quarto 28

Hannelore Brenner

Livro As meninas do quarto 28 Fonte: Arquivo pessoal

Um livro baseado em fatos reais sempre vem carregado de responsabilidade, não é?!

As meninas do quarto 28 é sensível, profundo e pesado. Ele conta a trajetória de meninas que viveram em um abrigo no gueto de Theresienstad, uma cidade artificial criada para propaganda, onde na verdade era um campo de concentração. De 60 meninas, apenas 15 sobreviveram para contar essa história. 

A história é contada de maneira muito humana e delicada de como viviam os 

judeus na Segunda Guerra Mundial. Muitas vezes o leitor se depara dando pausas para concluir alguns capítulos para conseguir digerir tanta informação.

O livro é cheio de desenhos feitos pelas meninas, como a beliche, o quarto onde dormiam, as paisagens com tempestades, entre cartas e fotos da época. Tudo isso era mesclado com os acontecimentos históricos e anotações do diário de Holga Pollak.

. É uma história feita de tristeza, amizade e esperança. 

“O parque da praça central, anteriormente cercado de arame farpado, está sendo liberado…”

Como Citar essa Matéria
COSTA, Rafaela. Uma leitura para todos! . Projeto Batente, Fortaleza - CE, 23 de abril de 2021. Educação. Disponível em: <https://projetobatente.com.br/uma-leitura-para-todos>. Acesso em: [-dia, mês e ano.-]
Rafaela Costa
Arquiteta e Urbanista
Arquiteta e Urbanista pela UNIFOR, com atuação profissional em projetos de edificações e ambientações e recentemente na elaboração do plano de regularização fundiária. Na atuação acadêmica fez parte de grupos de pesquisas como arte urbana em favelas, e o inventário de residências históricas em Fortaleza como documento e memória. É apaixonada pela relação edifício e cidade e como eles podem e devem contribuir para uma cidade mais justa e democrática.

Rafaela Costa

Arquiteta e Urbanista pela UNIFOR, com atuação profissional em projetos de edificações e ambientações e recentemente na elaboração do plano de regularização fundiária. Na atuação acadêmica fez parte de grupos de pesquisas como arte urbana em favelas, e o inventário de residências históricas em Fortaleza como documento e memória. É apaixonada pela relação edifício e cidade e como eles podem e devem contribuir para uma cidade mais justa e democrática.

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