Solucionismo tecnológico para quem?
Perspectivas únicas e exatas na contramão da vida real

Foi na década de 1990 que foi agravada a crença de que havíamos alcançado o ápice do nosso desenvolvimento social e político e que todos os problemas, a partir dali, seriam resolvidos pela tecnologia. A narrativa parecia perfeita, mas a realidade sempre nos coloca no nosso lugar.

Do Vale do Silício californiano, por exemplo, vieram as principais profecias sobre esse futuro incrível e exponencial. Bastaria que não se colocassem obstáculos ao avanço tecnológico e este, por si só, daria conta das imperfeições do nosso mundo, como se todos os problemas da sociedade humana fossem causados por má gestão e falta de poder de processamento.

A ideia de que todos os tipos de serviços públicos podem ser digitalizados, em formato mais eficiente e menos oneroso, protagoniza diversos campos de discussões sobre o avanço tecnológico. Entre eles, o que diz respeito ao impacto e à transformação do paradigma atual de como as instituições públicas devem ser operadas.

Cultivar a simplória e perigosa ideia de que mais tecnologia é sempre melhor e que os problemas e desafios atuais da nossa sociedade só existem porque
ainda não desenvolvemos a tecnologia apropriada para resolvê-los é o que alguns autores chamam de “solucionismo tecnológico”

Em uma perspectiva política, o solucionismo tecnológico está intimamente ligado com o neoliberalismo. Se o neoliberalismo é uma ideologia proativa, o solucionismo é reativo: ele desarma, desativa e descarta toda alternativa política. O neoliberalismo encolhe os orçamentos públicos, o solucionismo encolhe a imaginação coletiva. O maior objetivo do solucionismo é convencer o público de que a forma legítima de uso das tecnologias digitais é revolucionar tudo (com exceção da instituição central da vida moderna: o mercado).

Portanto, o fato de a tecnologia dispor de um determinado atributo ou potencial técnico não diz nada sobre como ela será utilizada na vida real. E é absolutamente crucial e indispensável entender essa limitação e superá-la, não apenas para um profissional que ocupe uma posição estritamente ligada à análise, ciência ou engenharia de dados, mas também a todas as outras áreas e disciplinas.

A partir do momento que deixamos de olhar para a inteligência artificial como provedora de “verdades absolutas”, trabalhamos a capacidade crítica e o dever cidadão de entender as tecnologias como mecanismos que só se realizam por meio do nosso uso e das nossas decisões, da inteligência humana.

Enquanto adotarmos o “solucionismo tecnológico” como uma perspectiva única e exata, seguirão altas as chances dos nossos sonhos utópicos se tornarem pesadelos reais.

BIBLIOGRAFIA

O aspecto mais importante da tecnologia continua sendo o humano. BORBOLLA, José. A Era dos Dados para o setor público: uma nova cultura organizacional analítica. Brasil, 2021.

Francisco Diego
Arquiteto e Urbanista
Arquiteto Urbanista membro do Estúdio Andar Plural, com profunda admiração pelo urbanismo em sua explosão de sentidos e afetos. Também é artista plástico e desenhista autodidata desde os 12 anos de idade com diversas experimentações artísticas, como colagens, pinturas e reutilização de fragmentos, e busca na teoria da arte-educação o caminho para o desenvolvimento pessoal e profissional.

Francisco Diego

Arquiteto Urbanista membro do Estúdio Andar Plural, com profunda admiração pelo urbanismo em sua explosão de sentidos e afetos. Também é artista plástico e desenhista autodidata desde os 12 anos de idade com diversas experimentações artísticas, como colagens, pinturas e reutilização de fragmentos, e busca na teoria da arte-educação o caminho para o desenvolvimento pessoal e profissional.

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