Cartas Geotécnicas
Uma ferramenta de planejamento e prevenção de uso territorial

Com o passar dos anos o homem vem buscando ocupar os espaços que estão disponíveis na natureza almejando proteção e conforto. Com esta elevação acentuada da concentração populacional, aumentando assim os espaços urbanos, se faz necessário buscar ferramentas que auxiliem nesta ocupação do meio sem afetar o equilíbrio geral ao seu redor.

Os desastres naturais afetam indistintamente toda a humanidade gerando inevitavelmente inúmeras vítimas e prejuízos econômicos. Isto só corrobora para o incremento da vulnerabilidade de pessoas, infraestrutura e instalações o que torna a questão da prevenção de desastres e acidentes de natureza geológica e hidrológica um dos maiores problemas nacionais, tanto pelas perdas de vidas frequentes, como pelos danos e prejuízos causados à sociedade e ao Estado.

Além dos trágicos desastres associados a enchentes e deslizamentos, mais conhecidos por sua ampla repercussão jornalística, as cidades brasileiras arcam com vários outros graves e crônicos problemas decorrentes de erros técnicos cometidos na ocupação de espaços urbanos. De acordo com o professor Lázaro Zuquette, ocorre de uma forma mais difusa, mas não menos agressivo do ponto de vista econômico, social e ambiental, destacam-se entre esses problemas: abatimentos e recalques de terrenos com comprometimento de edificações de superfície, solapamentos de margens de cursos d’água, colapso de obras superficiais e subterrâneas, patologias diversas em fundações e estruturas civis, contaminação de solos, contaminação de águas superficiais e subterrâneas, deterioração precoce de infraestrutura urbana, acidentes ambientais, degradação do meio físico geológico e hidrológico e perda de mananciais.

O crescimento acentuado da construção civil, tem sido acompanhado pelo aumento do número de acidentes de trabalho e de mortes de operários. Entre as causas de tantos acidentes estão a falta da cultura da prevenção e um ritmo de trabalho cada vez “mais denso, tenso e intenso”, entendendo que o acidente não é obra do acaso, e sim, do descaso, são situações que poderiam ser evitadas com o uso das cartas de risco.

Estando como uma das principais ferramentas para o acerto das relações técnicas da cidade com seu meio físico geológico, a Carta Geotécnica é um documento cartográfico, um mapa, que informa sobre o comportamento dos diferentes compartimentos geológicos e geomorfológicos homogêneos de uma área frente às solicitações típicas de um determinado tipo de intervenção, como a urbanização, por exemplo, e complementarmente indica as melhores opções técnicas para que essa intervenção se dê com pleno sucesso técnico e econômico. A Carta Geotécnica se destaca, portanto, como uma ferramenta de caráter preventivo e de planejamento. Ela provê aos administradores públicos as informações necessárias e indispensáveis para não ocupar áreas de alta potencialidade natural a eventos geotécnicos e hidrológicos de caráter destrutivo e a utilizar as concepções urbanísticas e as técnicas construtivas mais adequadas para a ocupação de áreas com restrições geológicas, mas potencialmente urbanizáveis.

A Carta Geotécnica é uma das ferramentas que se pode utilizar para a viabilização desta ocupação buscando-se atingir os objetivos desejados, com baixo impacto na modificação da natureza, custos viáveis de execução e minimizando os imprevistos nas fases de execução da ocupação. Ferramenta esta que irá nortear a ocupação da área que se desejada, informando suas características e limitações para o empreendimento desejado, relacionando assim os meios necessário para sua ocupação ordenada, sustentável e segura das edificações.

Zuquette considera que a elaboração das cartas e/ou mapas geotécnicos corresponde a um processo que busca avaliar e retratar as características dos componentes do meio físico, e os comportamentos frente aos diferentes tipos de ocupação, contemplando o meio físico como um todo, avaliando suas limitações e seus potenciais.

Já o geólogo Fernando Luiz Prandini esclarece que as cartas e/ou mapas geotécnicos permitem rever o desempenho da interação entre a ocupação e o meio físico, bem como os próprios conflitos entre as diversas formas de uso territorial, orientando medidas preventivas e corretivas, no sentido de minimizar gastos e riscos nos empreendimentos de uso do solo. Viu-se um avanço muito grande nas últimas décadas na cartografia geotécnica brasileira, com o surgimento de vários projetos, procedimentos e centros produtores deste tipo de cartografia. Como âncora teórica das publicações engendradas nesta temática, se destaca o Geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos, referência em artigos e livros escritos, onde em seu Manual Básico para elaboração de uso da Carta Geotécnica, salienta como sendo uma ferramenta de caráter preventivo e de planejamento.

Como Citar essa Matéria
MATOS, Alesson. Cartas Geotécnicas. Projeto Batente, Fortaleza - CE, 4 de janeiro de 2021. Urbanismo. Disponível em: <https://projetobatente.com.br/cartas-geotecnicas/>. Acesso em: [-dia, mês e ano.-]
Arquiteto Alesson Matos
Arquiteto e Engenheiro
Arquiteto especialista em gereciamento de projetos e sócio-diretor da Alesson Matos Arquitetos. Professor da Unichristus nos cursos de arquitetura e urbanismo, engenharia civil e engenharia de produção. Apaixonado por sua profissão, soma uma experiência de mais de 10 anos em desenvolvimento de projetos de edifícios residenciais, comerciais, industriais, condomínios residenciais, hotéis, loteamentos e praças.
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Arquiteto Alesson Matos

Arquiteto especialista em gereciamento de projetos e sócio-diretor da Alesson Matos Arquitetos. Professor da Unichristus nos cursos de arquitetura e urbanismo, engenharia civil e engenharia de produção. Apaixonado por sua profissão, soma uma experiência de mais de 10 anos em desenvolvimento de projetos de edifícios residenciais, comerciais, industriais, condomínios residenciais, hotéis, loteamentos e praças.

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