Comunidade Planejada: Pedra Branca – Conexões e Rupturas
Região Metropolitana de Florianópolis: a relação da ilha com o continente além das três pontes.

Florianópolis, Palhoça e outros 20 municípios integram uma Região Metropolitana (RM) com população de cerca de 1 milhão e 200 mil habitantes, e a ligação entre a parte insular e a continental da Grande Florianópolis se dá através de três pontes: Hercílio Luz (interditada/em manutenção há 25 anos), Colombo Salles e Pedro Ivo Campos. Embora o aeroporto, a rodoviária e a sede dos poderes executivo, legislativo e judiciário estaduais localizem-se na Capital, dos 6 portos existentes em Santa Catarina, apenas um é em Florianópolis,  e destinado a pequenos barcos pesqueiros, sendo os outros 5 de maior porte distribuídos ao longo da costa fora da RM, e as ferrovias servem aos portos, não chegando à Ilha.

O Município de Palhoça, por sua vez, apresenta população estimada em 170 mil habitantes, apresenta Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,757, mais baixo se comparado ao IDH da Ilha que é de 0,847. A população do município se distribui em cerca de 45 bairros, dentre eles o bairro planejado Cidade Universitária Pedra Branca, ou simplesmente Pedra Branca, sobre o qual nos deteremos. A escolha do sítio para sua inserção não se deu por estudos de viabilidade urbano-ambientais, mas sim por já ser uma propriedade rural pouco produtiva do grupo econômico que veio a capitanear o empreendimento objeto do presente artigo. O Sítio de 250 hectares, distante aproximadamente 30 km do aeroporto internacional, deu origem ao bairro planejado, onde antes era uma fazenda até a metade da década de 1990.

Ao longo dos primeiros dez anos, foi um loteamento aberto com amplos lotes que abrigavam residências unifamiliares de até dois pavimentos, com ares de condomínio privado.  No início, apresentou projeto tradicional com amplos lotes e residenciais unifamiliares soltas.

Vista aérea do Bairro Pedra Branca, Palhoça, RMF, SC.

Por volta de 2005, o grupo de investidores proprietários, inspirado em suas viagens internacionais, decidiu mudar os rumos da área central do empreendimento – 6 hectares (2,50% da área total inicial) – com novo discurso urbanístico alinhado tanto com as tendências urbanas contemporâneas mundiais quanto com os mais relevantes princípios e parâmetros do urbanismo utilizados em territórios planejados no Brasil.

Estas tendências visam a concepção de comunidades planejadas, não são condomínios fechados completamente (em caráter físico) para a cidade, mas também não são loteamentos plenamente inseridos na malha urbana previamente existente e nas relações de convivência da comunidade no entorno.

A nova fase do projeto (e implantação) de Pedra Branca apresentou foco na região central do bairro, praça central, via principal (compartilhada) e lotes do entorno imediato. Princípios como a dimensão compacta do tecido urbano (raio caminhável com conforto pelo pedestre, cerca de 500 metros), visando a combater o modelo de cidade espraiada; incremento e diversificação dos usos e atividade do solo urbano (uso misto – moradia, trabalho, estudo, lazer, compras, serviços); busca de aumento da densidade humana, tanto de moradores quanto de transeuntes (investimento na verticalização); e o projeto urbano paisagístico das áreas de uso comum, públicas e privadas, tendo como parâmetro principal a escala do ser humano (altura do olho do usuário), dimensionando projetos de praça, vias, calçadas, fachadas, equipamentos e mobiliários urbanos na linha da cidade para as pessoas.

O bairro, que teve como ancora inicial o campus da UNISUL (Universidade do Sul de Santa Catarina), conta com população estimada em 80 mil pessoas (40 mil moradores, 30 mil trabalhadores e 10 mil estudantes), o que configura uma densidade média de 16 pessoas por hectare. O gabarito dos prédios é de cerca de 13 pavimentos (inclusos subsolo e térreo), podendo alcançar uma altura máxima de 36 metros do rés-do-chão.  A região central apresenta via compartilhada com velocidade máxima estimada para os veículos de 10 km/hora, calçadas com cerca de 8 metros de largura, e é tratada pelos investidores como um shopping a céu aberto.

Vista da via principal (Rua da Universidade) alguns mobiliários urbanos com design de empresas estrangeiras, como a BMW.

Com o passar dos anos, tal região central ganhou além de edificações de uso misto, e a busca por densidades mais elevadas,  projetos de edificações que buscam permeabilidade física e visual entre a cidade e o edifício, prédios construídos no limite lindeiro a calçada (sem recuo, com pátio interno), buscando áreas de uso público que proporcionem boa qualidade de vida. Alguns prédios foram ou estão em processo de certificação ambiental, a via principal (Rua da Universidade) é compartilhada e existe o incentivo a diversos eventos culturais e esportivos, tornando nos finais de semana e feriados o bairro vivo e dinâmico, um convite à a caminhada.

Evento Cultural em um domingo de sol, na praça principal (projeto do escritório dinamarquês Gehl Architects).

Por outro lado, o bairro não é inserido na malha urbana do entorno, e apresenta cercas, muros, pergolados, grades, guaritas, cancelas e portais, com acessos e atividades controladas. Não vemos ambulantes, moradores de rua, manifestações artísticas ou qualquer outra ocupação espontânea, que seriam demonstrações naturais de uma cidade viva e dinâmica. Os moradores, quase sempre pertencentes a uma classe socioeconômica médio/alta, deslocam-se muitas vezes em helicópteros ou jatinhos (há um aeródromo no empreendimento com amplos lotes – e hangares – destinados a indústria tecnológica, não poluente), ao passo que os funcionários das empresas, comércios, serviços e universidade lá existentes moram em regra em localidades distantes, devido ao alto preço da terra urbanizada em Pedra Branca.

Na zona central do bairro o caminhar ou pedalar é agradável e seguro. Porém, o transporte público para chegar ao bairro é deficitário em possiblidades de modais (claramente a possibilidade mais adequada e automóvel particular), com poucas linhas de ônibus em intervalos grandes de tempo.

A densidade geral do bairro, como já mencionado, é baixa. Na região central: via compartilhada e praça central do empreendimento existe uma constante busca e investimentos para aumentar, ainda existem muitas quadras sem ocupação. O potencial natural paisagístico do sítio como um todo – recursos hídricos, topografia natural, área de vegetação aprazíveis – existem em diversidade, quantidade e qualidade adequadas proporcionalmente a área do empreendimento em pauta, mas ainda sem estrutura que possibilite múltiplos usos da população.

Em linhas gerais, são estes os traços mais caraterísticos da Comunidade Planejada Pedra Branca. Entretanto, como qualquer projeto na escala do urbano, é preciso acompanhar ao longo das próximas décadas as transformações da região para perceber se os parâmetros contemporâneos do urbanismo serão de fato vivenciados pelos usuários.

REFERÊNCIAS

CAVALCANTE, Felipe (org.). Comunidades Planejadas. Maceió: Viva Editora, 2014.

CIDADE CRIATIVA – PEDRA BRANCA.

ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DA PEDRA BRANCA (AMO).

AERODROMO – AEROPARK PEDRA BRANCA.

PORTAL DO CIDADÃO – PREFEITURA MUNICIPAL DE PALHOÇA.

GOVERNO DE SANTA CATARINA

UNISUL – UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA.

RODRIGUEZ, Karina Diógenes. Princípios e parâmetros do novo urbanismo em territórios planejados no Brasil. 2016. 156 f. Dissertação (Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo.

RODRIGUEZ, Karina Diógenes. Bairros planejados em São Paulo: Tendências urbanas contemporâneas. Minha Cidade, São Paulo, ano 16, n.186,04, Vitruvius, jan. 2016.

Karina Diógenes
Arquiteta e Urbanista
Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela UNIFOR, especialista em Gestão Ambiental Urbana pelo IFCE e mestre em Arquitetura e Urbanismo pelo Mackenzie.
Desenvolve atividades de ensino (com pesquisa e extensão) e outras mais voltadas para o mercado (planejamento, projeto, execução e manutenção). Tem curiosidade e interesse em arte e mobiliário urbanos, e gosta de gente, jogar conversa fora, risadas frouxas, dia frio com sol, dançar, viajar, café, cerveja e vinho. Não necessariamente nesta ordem.

Karina Diógenes

Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela UNIFOR, especialista em Gestão Ambiental Urbana pelo IFCE e mestre em Arquitetura e Urbanismo pelo Mackenzie. Desenvolve atividades de ensino (com pesquisa e extensão) e outras mais voltadas para o mercado (planejamento, projeto, execução e manutenção). Tem curiosidade e interesse em arte e mobiliário urbanos, e gosta de gente, jogar conversa fora, risadas frouxas, dia frio com sol, dançar, viajar, café, cerveja e vinho. Não necessariamente nesta ordem.

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