“Saudade do que não vivi”
A vontade e arrependimento de não ter aproveitado como deveria a cidade.

…Eu não queria essa praga
Que não é mais do Egito
Não quero que ela traga
O mal que sempre eu evito,
Os males não são eternos
Pois os recursos modernos
Estão aí, acredito…”

Quarentena (Moraes Moreira)

Confinados há dias nas nossas casas, muitas vezes em espaços pequenos, já que os apartamentos estão cada vez mais compactos, é impossível não vir na cabeça aquele arrependimento de não ter topado a saída com os amigos, a ida na praia no domingo, a volta no centro da cidade, a pelada, surf, a feirinha e a saudade dos encontros. Mais do que nunca sentimos falta do espaço público. 

Pessoas que moram em condomínios fechados que nunca tinham usufruído da pracinha ou do parquinho, hoje tem esses espaços como os únicos para poder ir e até festeja em quando vai ao supermercado ou farmácia. Existe aquele ditado popular “Só damos valor, quando perdemos”, e é isso que muitas pessoas estão sentindo nesse período de isolamento. Perdemos nossa liberdade de escolher se vamos ou não naquela praça passar um tempo conversando com os amigos e/ou familiares. 

Os caminhos para os únicos lugares que podemos ir, ficou mais bonito ou será que sempre foi bonito e só notamos agora?

A verdade é que as capitais estão tendo cada vez mais um aumento do custo de morar, a escassez de terra também é um fator que proporciona tanta densidade vertical, tornando esses centros urbanos muitas vezes claustrofóbicos. É com isso, que no meio dessa selva de pedra, os espaços públicos se tornaram uma espécie de respiros urbanos.

Pessoas na Praça José de Alencar, frente do Cineteatro São Luiz – Arquivo pessoal.

A importância dos espaços públicos é bastante destacada na Política Nacional de Saúde, a fim de melhorar, valorizar e utilizar os usos desses espaços de convivência.

Com isso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) indica 9m² de espaço verde por pessoa como reconhecimento dessa importância para a saúde da população urbana. Porém, em diversas cidades essa média não é obtida, e quando é obtida não é uniforme a sua distribuição.

Segundo o Professor do IFSP Akemi Hijioka, é fácil compreender que a expressão “espaço público e livre” sempre vem associada a áreas verdes, mesmo que estejam completamente desassociadas. Uma área livre também pode se entender por um espaço árido. Porém, com a recomendação da OMS é muito comum encontrar praças e parques extremamente áridos e que não atendem uma qualidade mínima para seu desfrute.

Neste período de isolamento, quanto mais o tempo passa, romantizamos mais a rua e os espaços público. Com o pensamento de querer aproveitar a coletividade, porém não podemos esquecer que esses espaços carecem de um devido zelo e métodos mais participativos de gestão, com cuidados e manutenção.

Estar e viver esses espaços é conhecer o outro, vivenciar encontros, respeitar ideias e a diversidade. Esse é o verdadeiro potencial do urbano. E cuidar desses espaços é cuidar da nossa troca e de como nos relacionamos, e conectamos direta e indiretamente com as pessoas. 

O que fica de reflexão é, como serão nossos espaços daqui pra frente e como vamos usufruir deles?

Como Citar essa Matéria
COSTA, Rafael. “Saudade do que não vivi”. Projeto Batente, Fortaleza - CE, 15 de junho de 2020. Urbanismo. Disponível em: <https://projetobatente.com.br/saudade-do-que-nao-vivi>. Acesso em: [-dia, mês e ano.-]
Rafaela Costa
Arquiteta e Urbanista
Arquiteta e Urbanista pela UNIFOR, com atuação profissional em projetos de edificações e ambientações e recentemente na elaboração do plano de regularização fundiária. Na atuação acadêmica fez parte de grupos de pesquisas como arte urbana em favelas, e o inventário de residências históricas em Fortaleza como documento e memória. É apaixonada pela relação edifício e cidade e como eles podem e devem contribuir para uma cidade mais justa e democrática.

Rafaela Costa

Arquiteta e Urbanista pela UNIFOR, com atuação profissional em projetos de edificações e ambientações e recentemente na elaboração do plano de regularização fundiária. Na atuação acadêmica fez parte de grupos de pesquisas como arte urbana em favelas, e o inventário de residências históricas em Fortaleza como documento e memória. É apaixonada pela relação edifício e cidade e como eles podem e devem contribuir para uma cidade mais justa e democrática.

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