Tijolo Por Tijolo
Da Mesopotâmia aos dias atuais.

Para muitos, o tijolo é, possivelmente, o material construtivo mais popular do mundo. Despido ou coberto por reboco, ele é utilizado para fazer paredes, abóbadas, cúpulas, lajes, e até pilares e vigas. Do Ocidente ao Oriente, da Mesopotâmia até a atualidade, o tijolo cerâmico esteve presente em quase todas as civilizações, sendo um dos mais antigos e disseminados materiais de construção.

A primeira produção de tijolo de barro, o adobe, data de 10.000 a.C. a 8.000 a.C., e foi desenvolvido pelo povo da antiga civilização de Jericó. O povo egípcio foi responsável por aperfeiçoar sua fabricação, onde passou a utilizar fôrmas de madeira para moldar os tijolos, que facilitavam e davam forma a arcos e abóbadas. Em seguida, a produção de tijolo cozido em fornos apareceu brevemente no Egito, mas seu uso se consolidou na Mesopotâmia entre 5.000 a. C e 4.500 a.C. A queima deu ao tijolo a resistência da pedra, com a vantagem de que a ele se podia dar forma com mais facilidade.

Zigurate de Ur.

Do renascimento ao século XVII, o uso do material expandiu-se por todas as camadas sociais, mas foi a partir da sua industrialização, no século XIX, que ele passou a ser produzido de forma mais ampla. O tijolo tornou-se um material universal, onde muitos arquitetos passaram a explorar as qualidades do material, que vão desde sua versatilidade e estética até seu excelente desempenho térmico, acústico e mecânico.

O material chega ao século XXI alheio ao já superado antagonismo entre tradição local e modernidade internacional. Entre os arquitetos contemplados com o Prêmio Pritzker, maior premiação de arquitetura, já é possível encontrar diversas obras construídas com tijolo aparente. O português Álvaro Siza, por exemplo, projetou e construiu o Quartel de Bombeiros de Santo Tirso (2013), em Portugal. Kazuyo Sejima, que recebeu o Pritzker em 2010 junto com Ryue Nishizawa, projetou as Seijo Town Houses (2007), em Tóquio, Japão. O chinês Wang Shu e sua sócia e esposa Lu Wenyu projetaram e construíram o Ningbo Museum (2008), uma inusitada combinação de concreto armado, pedra, tijolos e outras peças cerâmicas, em Ningbo, na China.

Galeria de Quartel de Bombeiros de Santo Tirso.

Na América Latina, há inúmeros arquitetos que difundem em suas obras muita diversidade na materialidade construtiva, como também possuem grandes exemplos de obras em tijolo aparente executadas no início do século, principalmente na Argentina, Paraguai e Chile. O argentino Rafael Iglesia e o chileno Smiljan Radic, são exemplos reconhecidos, premiados internacionalmente e grandes referências nesse tipo de produção. Outro arquiteto que merece destaque tanto pela prática profissional como pelas pesquisas realizadas é o paraguaio Solano Benítez, que trabalha junto ao Gabinete de Arquitectura. Um esforço que resulta em uma obra singular e poética, que vai além da aparente simplicidade de um material tão popular e universal como o tijolo.

No Brasil, temos algumas obras de destaque, como por exemplo, o Terminal da Lapa (2002), em São Paulo, dos arquitetos Luciano Margotto, Marcelo Ursini e Sérgio Salles, ou a recém inaugurada Galeria Claudia Andujar, em Inhotim, Minas Gerais, do escritório mineiro Arquitetos Associados. Apesar desses modelos, ainda não há um número expressivo de arquitetos que se destacam pelo uso de tijolo aparente, ao contrário do bloco de concreto, que é amplamente utilizado pelos arquitetos brasileiros.

Atravessar civilizações e conectar obras de arquitetos de países diferentes e gerações diferentes faz do tijolo aparente, com reboco ou qualquer outro processo de pós-produção, um elemento autêntico dentro do cenário da arquitetura. Um material universal, versátil, de matéria prima amplamente acessível e carregado de possibilidades ainda pouco exploradas. Se acreditarmos que o tijolo já atingiu sua plenitude e que há poucas maneiras de utilizá-lo, estamos, sem dúvida, subestimando suas potencialidades.

REFERÊNCIA

CAMERIN, Suelen. O tijolo em Solano Benítez. 2016. 264 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, Porto Alegre, RS, 2016.

Como Citar essa Matéria
DIEGO, Francisco. Tijolo Por Tijolo. Projeto Batente, Fortaleza - CE, 28 de setembro de 2020. Arquitetura. Disponível em: <https://projetobatente.com.br/tijolo-por-tijolo/>. Acesso em: [-dia, mês e ano.-]
Francisco Diego
Arquiteto e Urbanista
Arquiteto Urbanista membro do Estúdio Andar Plural, com profunda admiração pelo urbanismo em sua explosão de sentidos e afetos. Também é artista plástico e desenhista autodidata desde os 12 anos de idade com diversas experimentações artísticas, como colagens, pinturas e reutilização de fragmentos, e busca na teoria da arte-educação o caminho para o desenvolvimento pessoal e profissional.

Francisco Diego

Arquiteto Urbanista membro do Estúdio Andar Plural, com profunda admiração pelo urbanismo em sua explosão de sentidos e afetos. Também é artista plástico e desenhista autodidata desde os 12 anos de idade com diversas experimentações artísticas, como colagens, pinturas e reutilização de fragmentos, e busca na teoria da arte-educação o caminho para o desenvolvimento pessoal e profissional.

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