Uma reflexão sobre o Patrimônio Comum
A urbanização é um instrumento contínuo de transformação e de necessidade pertinente, auto modificável já que a sociedade é um conjunto de autores de ações temporais modificantes do espaço, que conceituam através de costumes e tradições uma época. Se o patrimônio cultural independe de uma edificação ou algo palpável, valorizamos aqui que características, estilos e singularidades são de extrema importância para a memória, nivelo ainda mais que tais singularidades carimbam a identidade não só do espaço, mas de uma população.
O termo Patrimônio é motivo de discussão, e divide opiniões entre o que é necessário manter, e o que é dispensável. Evidenciamos por vezes que uma edificação contém traços e estilos arquitetônicos de uma época, ou que naquele espaço aconteceu algo “importante” para a história. Mas o que realmente é importante? Aliás, quem é importante?
Esses questionamentos me fizeram avaliar a relevância da casa de minha avó, situada na Avenida Jonh Sanford, no bairro do Junco em Sobral-Ce, a “casa da Dona Lucinda” como é conhecida, não possui traços e estilo de um arquiteto, mas é um elemento de identificação para as pessoas que moram próximo, faz parte da paisagem daquele lugar, e constitui uma memória coletiva que não pode ser dispensada. Uma simples residência, de um morador “comum”, com a cor que ele escolheu para as paredes, com as rachaduras causadas pelo tempo, ou seja, a marca que aquele morador deixou na sua casa é importante para a história, na verdade é história. Se a cidade tem seu valor, e cidades são formadas por ruas, e ruas formadas por casa por consequência, então uma simples residência comum tem seu valor, singular e único, mas tem.
O que coloco em observação aqui é a inquietação com o que é considerado bem histórico, e como a não valorização de uma simples casa que não é tombada, influencia na característica de um espaço, que ao sofrer o processo de urbanização que faz parte da evolução das cidades, transformam completamente a paisagem de um lugar, o que inclina a perca do apego, da identificação, e do sentimento de pertencimento das pessoas que moram ou moravam naquele local.